A sotagliflozina, medicamento indicado para o tratamento de pacientes com diabetes, doença renal e fatores de risco cardiovasculares adicionais, pode reduzir significativamente o risco de infartos e derrames. As informações são de um ensaio clínico internacional liderado por pesquisadores do Mount Sinais, nos Estados Unidos, e publicados na revista científica The Lancet Diabetes 7 Endocrinology. Os testes foram financiados pela Lexicon Pharmaceuticals.

O remédio funciona como um inibidor do cotransportador e sódio e glicose (SGLT) e age bloqueando a função de duas proteínas, a SGLT1 e a SGLT2, que movem as duas substancias por meio das membranas das células e ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue.
A nova pesquisa é a primeira a demonstrar que um inibidor de SGLT proporciona os dois benefícios cardiovasculares analisados. Os pesquisadores consideram que os achados mostram que a sotagliflozina pode se tornar mais amplamente utilizada para reduzir o risco dos eventos cardiovasculares fatais em todo o mundo.
“Esses resultados demonstram um novo mecanismo de ação para reduzir o risco de ataque cardíaco e derrame. Os benefícios observados aqui são diferentes dos observados com os outros inibidores SGLT2 muito populares em uso clínico generalizado para diabetes, insuficiência cardíaca e doença renal”, declarou Deepak L. Bhatt, diretor do Mount Sinais Fuster Heart Hospital e líder do estudo.
Como foi feito o estudo
Foram analisadas cerca de 10,6 mil informações sobre pacientes com doença renal crônica, diabetes tipo 2 e fatores de risco cardiovasculares adicionais. Os voluntários foram divididos em dois grupos: um que recebeu o medicamento e o outro que recebeu placebo. Todos foram acompanhados por uma média de 16 meses.
Entre os que fizeram uso da sotagliflozina, foi observada uma redução de 23% na taxa de infartos, derrames e mortes por essas causas cardiovasculares, comparados com o grupo do placebo.
“Os médicos agora têm uma nova opção para reduzir o risco cardiovascular global, como insuficiência cardíaca, progressão da doença renal, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, em pacientes com insuficiência cardíaca ou diabetes tipo 2, doença renal crônica e outros fatores de risco cardiovascular”, defende Bhatt.
Para ele, com esses ‘novos e importantes dados’, “poderemos ver um uso mais difundido” deste remédio. O medicamento é recebeu aval em 2023 e é vendido sob o nome comercial de Inpefa pela Lexicon Pharmaceuticals nos Estados Unidos. No Brasil, ele ainda não tem autorização para venda pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – a Anvisa.
Por mais que a sotagliflozina seja o primeiro inibidor de SGLT a proporcionar a redução significativa dos eventos cardíacos graves – acima de 20%, a semaglutida, encontrada em medicamentos como Ozempic e Mounjaro, também mostrou benefícios significativos para a saúde do coração. Em 2023, a Novo Nordisk realizou testes que mostraram uma redução de 20% na incidência de ataque cardíaco, derrame ou morte por doença cardiovascular entre os que usaram a medicação.
A semaglutida pertence à classe de agonistas do GLP-1, ou seja, exerce uma ação diferente no corpo daquela da sotaglifozina para regular os níveis de açúcar no sangue. Os estudos sobre o impacto cardíaco foram conduzidos como Wegovy, que utiliza uma dose maior de semaglutida e tem indicação para tratamento da obesidade, até mesmo no Brasil.
Por isso, nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, aprovou, no ano passado, que o Wegovy também seja indicado para reduzir o risco de morte cardiovascular, ataque cardíaco e derrame em adultos com doença cardiovascular e obesidade ou sobrepeso.