Além de outros problemas de saúde, o consumo de bebidas alcoólicas pode estar relacionado a uma maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de seis tipos de câncer.
A afirmação tem ligação com o relatório científico da Associação Americana de Pesquisa do Câncer, publicado nesta última quarta-feira (18), que salientou os avanços científicos que levaram ao desenvolvimento de novos medicamentos anticâncer e à melhora na sobrevida, de forma geral.
Entretanto, ainda existe um padrão preocupante: mesmo que haja uma redução nas taxas de mortalidade por câncer, a incidência geral de vários tipos tem aumentado de forma inexplicável, especialmente entre adultos mais jovens com tumores no sistema gastrointestinal, como o câncer colorretal.
O documento estima que 40% de todos os casos de câncer estão ligados a fatores de risco modificáveis. Portanto, é recomendada a diminuição do consumo de álcool e outras mudanças no estilo de vida, como evitar o tabaco, ter dieta e pesos saudáveis, praticar exercícios, evitar a radiação ultravioleta e minimizar a exposição a poluentes.
Além disso, os autores do relatório enfatizaram a importância de uma maior conscientização sobre o assunto por meio da comunicação pública e adição de rótulos de advertências específicos sobre a doença nas bebidas alcoólicas.
A orientação se dá em meio a uma reavaliação sobre os supostos benefícios do consumo moderado de álcool à saúde.
Recentemente, por exemplo, um grande estudo, que acompanhou mais de 135 mil adultos britânicos mais velhos por mais de uma década, apontou que consumidores moderados e leves não se beneficiaram de uma redução nas doenças cardíacas, em comparação com os ocasionais.
Ademais, tanto os consumidores moderados quanto os leves registraram mais casos de morte por câncer do que aqueles que bebiam ocasionalmente. Isso se deu especialmente entre idosos de baixa renda e os que tinham problemas de saúde existentes.
“Cinco por cento das pessoas, ou mais da metade, não sabem que o álcool aumenta o risco de câncer. Isso é preocupante”, analisou Jane Figueiredo, epidemiologista do Instituto Compressivo de Câncer Samuel Oschin, no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, que participou do comitê responsável pelo relatório.
Ela continuou: “Podemos falar sobre o mito de que o vinho tinto tem potenciais benefícios cardiovasculares, mas existem muitas maneiras de manter seu coração saudável, e esses potenciais benefícios realmente não superam os riscos de câncer”.
O relatório indicou que a ingestão excessiva de álcool pode aumentar o risco de carcinoma espinocelular do esôfago e certos tipos de câncer de cabeça, pescoço, mama, colorretal, fígado e estômago.
Em 2019, 5,4% dos cânceres nos Estados Unidos, pouco mais de um a cada 20 diagnósticos, foram atribuídos ao consumo de álcool. Mas a conscientização pública ainda é baixa.
Outro estudo indicou que menos de um terço das mulheres de 18 a 25 anos sabia que o consumo de álcool aumenta o risco de tumores malignos na mama.
As taxas de câncer aumentaram de forma significativa entre adultos na casa dos 30 anos entre 2010 e 2019. As maiores incidências são de câncer de mama, tireoide, cólon e reto, segundo o relatório.
No caso do câncer colorretal de início precoce (definido como malignidades em adultos com menos de 50 anos), houve um aumento de 1,9% ao ano entre 2011 e 2019, com diversos estudos publicados que documentam a tendência.
Mesmo com a notícia alarmante, os novos tratamentos disponíveis estão prolongando o tempo de sobrevida para pessoas com câncer: as taxas de mortalidade para mulheres acima de 50 anos com câncer de mama caíram, assim como as relacionadas a adultos mais velhos com câncer colorretal.
Por outro lado, as taxas deles entre jovens adultos estão aumentando, assim como os índices de casos de cânceres gástricos e alguns cânceres sanguíneos, segundo o relatório. Adicionalmente, embora pacientes com leucemia, melanoma e câncer renal estejam vivendo mais, a incidência geral dessas doenças está aumentando.
Ainda não há uma resposta clara sobre o motivo do aumento do câncer colorretal de início precoce, mas estudos indicam que o consumo frequente e regular de álcool na juventude e meia-idade está associado a um maior risco de cânceres de cólon e reto na vida adulta.
O álcool tem efeitos adversos sobre o microbioma, coleção de bactérias, fungos e vírus que vivem em nosso corpo, além de também alterar as bactérias intestinais, o que pode influenciar o crescimento e disseminação de tumores.
O mesmo ocorre com o risco de câncer de mama, já que os níveis do hormônio estrogênio podem ficar elevados e haver o desenvolvimento de tumores. Conclui-se que reduzir o consumo de álcool é uma das maneiras de modificar o risco para a doença.
O estudo da Associação Americana de Pesquisa do Câncer também diz que o consumo de álcool, qualquer quantidade, durante a gravidez aumenta o risco de leucemia infantil nos filhos.
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