A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) divulgou recentemente que o número de cirurgias plásticas realizadas no Brasil cresceu consideravelmente nos últimos anos. Entre as cirurgias mais realizadas está a abdominoplastia, um procedimento feito com a finalidade de melhorar a aparência do abdômen.
Embora as técnicas para a realização de cirurgias reconstrutoras e estéticas tenham melhorado muito nos últimos anos, é preciso considerar que a abdominoplastia apresenta riscos de complicações, especialmente se ela for combinada com outras técnicas, como lipoaspiração e implante de silicone. Se você pretende realizar esse tipo de cirurgia, conheça quais são os riscos da abdominoplastia antes de se submeter ao procedimento.
Abdominoplastia – O que é?
Ter uma barriga lisa e tonificada é o objetivo de milhares de pessoas, e não é à toa que a maioria foca nos exercícios e dieta para alcançar esse resultado. Porém, para alguns essas medidas parecem não surtir efeitos, sendo necessário buscar essa solução em um procedimento mais invasivo, como a abdominoplastia.
Engana-se quem pensa que a flacidez abdominal é causada apenas pelo acúmulo de gordura, pois ela também pode ser o resultado do excesso ou pouca elasticidade da pele, alongamento da fáscia abdominal, conhecida como cinta interna do tecido conjuntivo, e dos músculos abdominais entre as costelas até o osso púbico. Histórico familiar, cirurgias anteriores, envelhecimento, gravidez e alterações significativas no peso costumam ser as principais causas dessa condição, e o desconforto causado leva muitas pessoas a buscar um procedimento como esse, considerando que seus resultados são relevantes, duradouros e mais rápidos que outras abordagens.
No entanto, ainda que pareça minimamente invasiva e simples, a abdominoplastia é considerada uma cirurgia de grande porte. O procedimento envolve a remoção do excesso de gordura e pele e, na maioria dos casos, restaura os músculos que estão flácidos ou separados, e o resultado é um abdômen mais fino e firme.
Vale reforçar que ela não é um substituto para perda de peso e não isenta a necessidade de incorporar na rotina um programa de exercícios adequado. É claro que os resultados são permanentes, mas eles só serão duradouros se as variações de peso forem controladas, e é justamente por isso que as pessoas que pretendem eliminar uma quantidade de peso significativa ou mulheres que estão planejando engravidar futuramente são desaconselhadas a realizar uma abdominoplastia.
Como é feita?
Você tem um caminho a percorrer antes de chegar às vias de fato. Inicialmente, o médico cirurgião deverá analisar o seu caso e entender se você é elegível para realizar o procedimento, assim como as suas expectativas em relação a ele. Ele também deverá analisar o seu estado de saúde através de diversos exames pré-cirúrgicos, e somente após a aprovação em todas as etapas a cirurgia deve ser realizada.
O tempo estimado para a abdominoplastia é de uma a cinco horas, e essa variação dependerá da extensão, complexidade e também dos resultados esperados. Normalmente, o paciente recebe uma anestesia geral, e a partir daí a técnica mais adequada e que já foi previamente acordada é realizada. Veja abaixo como cada uma funciona:
1. Abdominoplastia tradicional
Como vimos, os músculos abdominais que perderam sua forma natural devido à gravidez ou às alterações relevantes de peso podem se tornar soltos ou separados. Uma abdominoplastia tradicional envolve reparar os músculos da região e remover o excesso de pele e tecido. Normalmente, durante a cirurgia o umbigo é reposicionado depois que a pele abdominal é apertada, e a técnica pode ser combinada com uma lipoaspiração para melhores resultados.
2. Mini abdominoplastia
A mini abdominoplastia, também conhecida como abdominoplastia parcial, é indicada para pessoas que precisam tratar a pele flácida localizada na região do umbigo e abaixo dele. Ao remover o excesso de pele e de tecido gorduroso desta área, a silhueta, flacidez e a protuberância no baixo-ventre são eliminadas e ela costuma ser menos invasiva porque os músculos abdominais são poupados.
3. Abdominoplastia estendida
A abdominoplastia estendida é recomendada para um grupo seleto de pessoas. Geralmente, aqueles que perderam muito peso por causa de uma cirurgia bariátrica e que querem melhorar consideravelmente os contornos corporais são os elegíveis.
Em uma abdominoplastia estendida, o excesso de pele e tecido é removido não apenas do abdômen, mas também dos quadris, coxas e costas. Além disso, músculos das costas, flancos e abdômen podem ser reparados e tonificados.
De todas as técnicas, ela é a mais completa, e consequentemente a que apresenta mais riscos para o paciente.
Após a realização da abdominoplastia, algumas recomendações serão feitas pelo cirurgião, para que a recuperação seja tranquila. No entanto, assim como acontece com qualquer outra intervenção cirúrgica, ela é suscetível a complicações, como abordaremos a seguir.
Quais são os riscos da abdominoplastia?
Embora o cirurgião investigue todas as possíveis causas que podem gerar complicações em um procedimento e se cerque de cuidados para isso não acontecer, os riscos existem. Abaixo estão alguns riscos da abdominoplastia, que devem ser discutidos antes de realizar a cirurgia
– Seroma
Considerada a complicação mais comum em uma abdominoplastia, o seroma é um acúmulo de sangue ou líquido sob a pele. A taxa de seroma relatada em 2013 foi de 15,4%, e os riscos foram maiores quando o procedimento foi combinado com a lipoaspiração, principalmente em pacientes do sexo masculino.
Se o problema acontecer, pode ser necessário um tratamento adicional. A boa notícia é que, felizmente, a maioria dos seromas são solucionados após uma punção e aspiração repetida. Agentes alquilantes, como bleomicina, doxiciclina e pó de talco são usados para casos recorrentes, mas se a condição não for solucionada, pode ser necessária uma cirurgia para aproximar as paredes, eliminando assim o espaço ocupado pelo seroma.
– Infecção
Em segundo lugar entre os riscos da abdominoplastia estão as infecções, com uma incidência estimada entre 1% e 3,8%. O cigarro, sobrepeso, obesidade e outras complicações, como a necrose e seroma, também aumentam o risco de infecção.
Normalmente, as bactérias presentes na pele são as responsáveis pela maioria das infecções após abdominoplastias – algumas inclusive podem ser transmitidas pela má higienização das mãos.
Uma infecção pode precisar de um tratamento adicional, incluindo antibióticos e em alguns casos um procedimento de drenagem.
– Cicatrizes
Cicatriz é um efeito colateral já esperado de uma cirurgia como a abdominoplastia. Por esse motivo, os cirurgiões procuram realizar incisões baixas na chamada “linha do biquíni” para que possam ser escondidas pelas peças íntimas. Porém, a localização exata e o tamanho das cicatrizes podem variar de acordo com a anatomia e necessidades individuais de cada pessoa.
Pessoas que sofrem com problemas de cicatrização, como queloide, podem apresentar cicatrizes salientes que compromete a estética. Mesmo com os devidos cuidados, a incidência relatada de cicatrizes queloideanas varia entre 1% e 3,7%.
Além disso, os homens costumam ter cicatrizes menos agradáveis, porque a pele costuma ser mais fina e pigmentada do que o resto da pele na região abdominal. Então algumas diferenças na cor da pele entre os dois lados da cicatriz, e uma disparidade na espessura da pele podem acontecer.
– Reação à anestesia
Geralmente, um procedimento de abdominoplastia é feito sob anestesia geral, e para garantir a segurança, existirá uma avaliação antes da cirurgia, e um monitoramento assíduo durante o procedimento.
Mesmo sendo considerada segura quando todos os cuidados são administrados, muitas pessoas ficam preocupadas em não acordar da anestesia. No entanto, as estatísticas mostram que apenas 1 em 250.000 pacientes podem não acordar da anestesia, segundo a Sociedade Americana de Anestesiologistas. Já o risco de acordar durante a cirurgia também é extremamente baixo – estima-se que o número seja de 1 em 10.000.
No entanto, existem sim riscos da abdominoplastia associados à anestesia. Por exemplo, a anestesia geral pode causar náuseas e vômitos temporários, dor de garganta, confusão, dores musculares, coceira, hipotermia e danos aos dentes. Pessoas que fumam, sofrem com convulsões, apneia obstrutiva do sono, obesidade, pressão alta, diabetes, doenças cardíacas, pulmonares ou renais, ou usam medicamentos que aumentam o risco de sangramento, e aqueles com histórico ingestão excessiva de álcool, alergias a medicamentos e reações alérgicas à anestesia em procedimentos anteriores, estão mais predispostos a desenvolver esses problemas.
Isso significa que aqueles que apresentam uma boa saúde geral apresentam riscos muito mais baixos de ter uma reação adversa à anestesia.
–Pós-operatório mais demorado do que o normal
Em média, quatro semanas são necessárias para uma recuperação após a cirurgia. No entanto, algumas pessoas podem experimentar uma dor por mais tempo, inchaço, atraso na cicatrização ou outros problemas que se estendem por um período relativamente maior do que as 4 semanas previstas. Se você perceber que a sua recuperação não está caminhando como o esperado, converse com o seu médico.
– Necrose
Uma necrose ou tecido morto é uma complicação relativamente rara da cirurgia de abdominoplastia, cuja incidência pode variar entre 3% e 4,4%. Quando isso acontece, a cicatrização pode ser um processo longo e difícil, e a principal causa está relacionada a falta de fluxo sanguíneo para a cicatrização dos tecidos.
Pessoas que fumam apresentam uma predisposição três vezes maior de desenvolver necrose, mas combinar a abdominoplastia com outras operações estéticas também aumenta os riscos.
Uma necrose leve pode ser tratada com curativos ou outras técnicas não cirúrgicas, porém a grave pode exigir um acompanhamento próximo e até uma cirurgia de reparo.
– Perda de sensibilidade
A abdominoplastia provoca sim uma perda de sensibilidade nas áreas em que a incisão foi feita, mas ela geralmente volta ao normal à medida que a cicatrização progride. Porém, algumas pessoas costumam apresentar uma dormência prolongada ou sensação reduzida por um longo tempo. A queixa mais comum é de dormência logo abaixo do umbigo, e dificilmente é uma preocupação relevante, mas se não diminuir naturalmente, é importante informar o cirurgião.
– Coágulos sanguíneos
As chances de desenvolver um coágulo sanguíneo após a cirurgia de abdominoplastia são de aproximadamente 2 em 10.000. Embora ter um coágulo nas pernas ou nos pulmões seja uma complicação considerada muito rara, ela é grave e possível em pessoas submetidas a qualquer tipo de operação.
Os riscos de coágulos sanguíneos aumentam se o paciente já tiver mais de 40 anos de idade, usa pílulas anticoncepcionais, tem antecedentes pessoais ou histórico na família, obesidade e tabagismo.
Para minimizar esses riscos da abdominoplastia, o cirurgião tomará as precauções necessárias durante a cirurgia, e recomendará uma caminhada assim que o paciente puder se levantar para estimular a circulação.
– Embolia
A embolia pode ocorrer após uma lipoaspiração, abdominoplastia e outras cirurgias que soltam “bolsas” de gordura, mas é considerado raro. Ainda que ocorra com mais frequência após fraturas de ossos longos, os riscos de embolia gordurosa após abdominoplastia é estimado em menos de 1 em 10.000, e acontece quando partes de gordura são capturados pelos vasos sanguíneos ou pulmões.
A preocupação com a condição é grande porque ela é considerada grave e em alguns casos fatal; então, o cirurgião deve investigar se existem fatores de risco individuais e também algum sinal de alerta antes da cirurgia.
– Reações alérgicas
Uma reação alérgica pode ser experimentada durante a cirurgia ou no processo de recuperação. Normalmente, ela é causada por medicamentos como antibióticos, analgésicos ou materiais cirúrgicos, látex e outros. Por esse motivo, é essencial que o cirurgião esteja atento a uma possível reação alérgica durante a cirurgia ou recuperação.
– Resultados insatisfatórios
Algumas pessoas podem ter resultados insatisfatórios, cicatrizes ou assimetrias. Em alguns casos, pode ser necessário uma segunda cirurgia ou um reparo para corrigir.
Sendo assim, escolher um cirurgião capacitado e experiente pode diminuir consideravelmente a necessidade de fazer uma correção. Procure conhecer os resultados de cirurgias já realizadas pelo cirurgião que você escolheu, e também elimine qualquer dúvida, pois um profissional experiente será capaz de fornecer informações sobre os seus fatores de risco, assim como as recomendações necessárias para que seus resultados sejam os melhores.
– Óbito
Os casos de morte após uma abdominoplastia são muito raros, mas eles existem. Dados de 25 anos atrás trazem um percentual de 0,04% a 0,16%, e a maioria dos casos de mortalidade foi atribuída à embolia pulmonar maciça.
Quando olhamos os números atuais, nenhum caso foi relatado, no entanto, essas estatísticas não consideram os procedimentos feitos por cirurgiões plásticos não certificados que trabalham sob condições de segurança limitadas.
Considerações finais
Grande parte do sucesso de uma abdominoplastia é a escolha de um profissional sério e capacitado, mas outros cuidados também podem ser tomados para diminuir os riscos da abdominoplastia.
Se você é fumante, considere largar o vício antes do procedimento, pois o cigarro diminui o fluxo sanguíneo na pele e pode retardar o processo de cicatrização, sem contar que ele aumenta os riscos de danos no tecido e outras complicações.
Você também deve considerar parar ou evitar certos medicamentos, por exemplo, a aspirina, anti-inflamatórios e suplementos à base de ervas, pois podem aumentar o sangramento.
Outro cuidado importante é gerenciar o peso por pelo menos 12 meses antes de fazer uma abdominoplastia. Osso é importante porque se você está muito acima do peso, pode comprometer os seus resultados após o procedimento, além de aumentar os riscos de ter algumas complicações pós-cirúrgicas.
Considere também que você precisará de paciência e ajuda. A recuperação da abdominoplastia exigirá cuidados específicos, especialmente nos primeiros dias, e seguir rigorosamente as orientações diminuirá consideravelmente as chances de desenvolver alguns problemas.
Então, cerque-se dos cuidados necessários, tome todos os medicamentos recomendados corretamente, vá às consultas de acompanhamento e busque alguém para lhe ajudar com as rotinas domésticas até que você esteja liberado para assumir novamente essas atividades.
Fontes e Referências Adicionais:
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5621815/
- https://www.mayoclinic.org/tests-procedures/tummy-tuck/about/pac-20384892
- https://www.sciencedaily.com/releases/2015/10/151029124815.htm
- https://journals.lww.com/plasreconsurg/Citation/2015/05001/Abstract_44___Outcomes_and_Safety_of_Combined.49.aspx