Você certamente já deve ter visto a sua mãe guardar as sobras do macarrão de domingo para o jantar ou o almoço do outro dia. Mas o que você provavelmente não sabia é que além desse hábito ser uma forma de não desperdiçar comida e economizar tempo na hora de preparar alguma refeição, ele também pode ser saudável.
A descoberta foi divulgada durante o programa Trust Me, I’m A Doctor do canal BBC. Partiu-se da ideia de que ao requentar o macarrão a estrutura do alimento se modifica e se transforma no chamado amido resistente. Este tem maior resistência às enzimas do intestino que quebram os carboidratos, liberam glicose e causam o excesso de açúcar no sangue. Dessa forma, este amido resistente poderia ser tratado pelo organismo de maneira similar à que ocorre com as fibras. Os médicos do programa resolveram fazer testes para comparar o efeito de comer macarrão fresco, frio ou reaquecido.
A tese sugeria que o tratamento do macarrão reaquecido no organismo traria um pico mais baixo de glicose, contribuiria com a nutrição das bactérias boas que vivem no intestino e absorveria menos calorias, como explica a pesquisadora Dr. Denise Robertson, da Universidade de Surrey, da Inglaterra.
Para fazer a avaliação foram chamados voluntários que passaram por três dias de testes divididos em várias semanas, em que eles deveriam comer macarrão estando com o estômago vazio. De maneira aleatória, eles se alimentaram de macarrão quente, frio ou requentado em cada dia do teste.
Em um dia, eles comeram um prato de macarrão fresco e quente, com um molho de tomate e alho. Em outra ocasião, eles ingeriam o alimento frio e amanhecido, com o mesmo tipo de molho. Já no terceiro dia, eles se alimentaram do macarrão com molho e amanhecido, mas dessa vez reaquecido.
Para verificar o que acontecia com os níveis de glicose no sangue dos participantes enquanto o macarrão era digerido, os médicos também os submeteram a testes de sangue a cada 15 minutos durante um período de duas horas.
O experimento mostrou de fato que o macarrão frio, a sobra, gerou menores picos de insulina e glicose no sangue. Mas o resultado mais surpreendente foi que o macarrão requentado reduziu o pico de glicose no sangue em 50% quando comparado ao macarrão fresco. Ou seja, foi ainda melhor até do que o macarrão frio.
Os médicos e voluntários envolvidos no teste do macarrão requentado
Com isso, a conclusão à qual os pesquisadores chegaram é que o teste sugere que reaquecer o macarrão realmente o transforma em um amido resistente. “Nós fizemos uma nova descoberta no programa Trust Me I’m A Doctor e isso é algo simples e facilmente poderia melhorar a saúde. Nós podemos transformar uma refeição rica em carboidratos em algo mais rico em fibras sem mudar um ingrediente sequer, apenas a temperatura. Em outras palavras, os restos dos alimentos podem ser mais saudáveis para nós do que o prato original”, explicou o Dr. Chris van Tulleken, um dos responsáveis pelo teste.
O próximo passo agora é realizar novas avaliações, como é a intenção da outra médica envolvida nos testes, a Dr. Denise Robertson, para verificar se acrescentar o amido resistente na alimentação pode melhorar os níveis de glicose no sangue de portadores de diabetes.