Os medicamentos à base de semalgutida, que costumam ser indicados para diabetes tipo 2 e obesidade, podem levar a uma perda de peso que é sustentada por cerca de quatro anos.
O resultado foi apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, que acontece em Veneza, na Itália. Além disso, foi sugerido que os remédios podem reduzir o risco de problemas cardiovasculares.
Duas pesquisas se basearam no maior e mais longo estudo clínico com remédio, chamado SELECT, que reuniu 17,6 mil participantes com sobrepeso ou obesidade.
Os testes envolveram a semaglutida na dosagem de 2,4 mg, que é a presente no Wegovy, versão aprovada para obesidade. O Ozempic, por sua vez, é usado amplamente de forma off-label, ou seja, com finalidade diferente da prescrita na bula.
A primeira pesquisa avaliou o progresso da perda de peso após quatro anos do início do uso do medicamento.
Na análise dos pesquisadores, liderados pela professora Donna Ryan, do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, nos Estados Unidos, foi observado que, depois desse período, os voluntários mantiveram, em média, uma redução de 10% do peso corporal e de 7 cm da medida da cintura em relação ao início.
Além disso, a perda de peso foi considerada clinicamente significativa e alcançada por homens e mulheres de todos os tamanhos corporais, idades e raças, em todas as regiões analisadas.
Mais da metade desceu, no mínimo, uma categoria de índice de massa corporal (IMC) após dois anos, e 12% atingiu um IMC considerado saudável, 25 kg/m² ou menos, algo observado somente em 1% dos voluntários do grupo placebo.
“Esse grau de perda de peso em uma população tão grande e diversificada sugere que pode ser possível afetar a carga de saúde pública de várias doenças relacionadas à obesidade. Embora nosso estudo tenha se concentrado em eventos cardiovasculares, muitas outras doenças crônicas, incluindo vários tipos de câncer, osteoartrite, ansiedade e depressão, se beneficiariam de um controle de peso eficaz”, anunciou Ryan em comunicado.
Simon Cork, professor sênior de Fisiologia da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, que não participou do estudo, acredita que a análise é importante por confirmar os benefícios do uso do medicamento a longo prazo.
“Sabemos que a recuperação do peso é muito comum em pacientes que param de tomar semaglutida após esse período, mas não tínhamos nenhum dado de segurança ou prova de que o peso permaneceria reduzido (com a continuidade do remédio). Supunha-se que o platô de peso continuaria, mas isso não havia sido demonstrado até agora”, declarou o profissional.
Ele defende o resultado devido a questionamentos sobre a eficácia a longo prazo: “O fato de esses dados demonstrarem que os parâmetros cardiovasculares e metabólicos melhoraram até quatro anos pode, de certa forma, negar esse argumento. Esse estudo também demonstra claramente que a obesidade é uma condição vitalícia”.
Mas, atenção: antes de usar Ozempic ou medicamentos similares para emagrecer é crucial passar por uma avaliação médica para saber se isso é saudável e indicado para você e entender como (em que dosagem, frequência e por quanto tempo) o remédio em questão pode ser utilizado por você de maneira segura e eficaz.
É importante lembrar que o Ozempic tem efeitos colaterais. Inclusive, em 2023 foi noticiado que uma mulher de 29 anos foi parar na UTI após usar Ozempic sem orientação médica.
Por sua vez, o segundo trabalho, conduzido pelo professor John Denfield, da University College of London, no Reino Unido, pesquisou de forma mais profunda o impacto do medicamento com relação ao risco cardíaco.
O estudo SELECT já tinha constatado uma redução de 20% de ataque cardíaco, infarto ou morte para grupos que recebiam a semaglutida durante o período inicial.
Desta vez, os benefícios cardiovasculares foram constatados após os quatro anos, independentemente do peso inicial do voluntário e da quantidade de peso perdido.
“Essas descobertas têm implicações clínicas importantes. Nossas descobertas mostram que a magnitude desse efeito do tratamento com semaglutida é independente da quantidade de peso perdido, sugerindo que o medicamento tem outras ações que reduzem o risco cardiovascular além da redução da gordura corporal não saudável”, disse Deanfield.
O professor concluiu: “Esses mecanismos alternativos podem incluir impactos positivos sobre o açúcar no sangue, a pressão arterial ou a inflamação, bem como efeitos diretos sobre o músculo cardíaco e os vasos sanguíneos, ou uma combinação de um ou mais desses fatores”.
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