O pH do Sangue Afeta a Saúde? O Que é Normal?

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O organismo humano é uma máquina complexa que trabalha o tempo inteiro para manter as funções essenciais para a vida.

Muitas reações metabólicas dependem diretamente dos valores de pH para ocorrer e é preciso que tudo esteja em ordem para que elas aconteçam. Assim, em alguns compartimentos do organismo o pH é ácido – como no estômago, por exemplo, em que o pH varia de 3 a 5,5 – e em outros locais esse pH pode ser neutro ou básico, de acordo com as reações que lá ocorrem.

Mas e o pH do sangue? Você sabe qual é e como ele afeta o nosso organismo?

Além de relembrar o conceito de pH, vamos falar sobre a influência do pH do sangue na nossa saúde e mostrar os valores considerados normais para que tudo ocorra dentro da normalidade no nosso corpo.

O pH do Sangue

Essa breve explicação é para aqueles que não gostavam muito de química na escola. Existe uma escala chamada de pH – potencial hidrogeniônico – que mede se algo é ácido, neutro ou básico. Isso é medido através da quantidade de íons hidrogênio presentes em uma substância quando ela está em uma solução aquosa.

Assim, o pH do suco de limão, por exemplo, pode ser medido quando gotas ou um limão inteiro é espremido em água. Através da concentração de íons hidrogênio que ele apresentar, é possível dizer se o limão é ácido, básico ou neutro.

Esse conceito é muito importante, já que existem reações químicas que são mais rápidas ou só acontecem quando ocorrem em meio ácido, enquanto outras são mais bem-sucedidas ou ocorrem exclusivamente em meio básico.

No organismo, acontecem muitas reações químicas o tempo todo e a maioria delas é dependente do pH. Assim, ter um pH correto em cada local do corpo é essencial para manter a boa saúde.

A escala de pH varia de 0 a 14. Quando uma solução apresenta um pH menor que 7, significa que a substância é ácida. Já em casos em que o pH é maior que 7, a substância é básica ou alcalina. O meio termo ocorre quando a solução apresenta pH igual a 7 e, neste caso, a substância encontrada nessa solução é neutra.

O que é normal?

O pH do sangue normal varia de 7,35 a 7,45. Por ser maior que 7, isso significa que o pH normal do nosso sangue é levemente básico.                                       

O pH do sangue afeta a saúde?

Na verdade, não é o pH do sangue que afeta a saúde, mas sim o inverso. O pH do sangue é afetado por problemas de saúde ou por desequilíbrios metabólicos leves e pontuais. Isso significa que algumas condições podem deixar o corpo muito ácido ou muito básico.

Condições de saúde que podem alterar os valores de pH normais incluem:

  • Diabetes;
  • Doença renal;
  • Doença cardíaca;
  • Gota;
  • Infecções;
  • Estado de choque;
  • Doença pulmonar;
  • Asma;
  • Envenenamento;
  • Hemorragia;
  • Overdose de drogas ou medicamentos.

Quando o pH do sangue cai abaixo de 7, ele fica ácido e uma condição chamada de acidose é observada. Em casos em que o pH do sangue fica acima de 7,45 – que é o limite superior normal – ele se torna muito básico, condição chamada de alcalose.

Os órgãos mais importantes para o equilíbrio de pH no sangue são os pulmões e os rins. Isso porque os pulmões atuam removendo o gás carbônico (dióxido de carbono) por meio da respiração, enquanto que os rins removem resíduos ácidos por meio da urina. Assim, eles regulam a acidez no corpo.

Quando há um problema respiratório, por exemplo, pode acontecer uma alteração no pH do sangue. Problemas nos rins também podem resultar em variações de pH, já que eles estão envolvidos na filtração do sangue e na eliminação da urina.

Vamos falar sobre as causas de alterações de pH do sangue com mais detalhes ainda nesse artigo.

Como medir

O pH do sangue pode ser medido em um teste simples chamado de gasometria arterial. Esse teste mede a quantidade de oxigênio e de dióxido de carbono no sangue.

Para que o teste possa ser feito, é preciso coletar uma amostra de sangue e enviar o mesmo para um laboratório de análises clínicas.

Pode ser que exames específicos sejam solicitados por um médico para auxiliar no diagnóstico, tais como:

  • Testes de urina para verificar a eliminação de compostos ácidos e básicos;
  • Painel metabólico básico para verificar como anda a função renal e a quantidade de nutrientes no organismo;
  • Exame de pH na urina para medir a acidez ou a alcalinidade da mesma;
  • Níveis de glicose sanguínea;
  • Exames de imagem;
  • Testes de funções respiratória e cardiovascular.

Principais causas de alcalose

A alcalose – pH do sangue mais alto que o normal – pode ser causada por vários problemas de saúde. Há casos em que o consumo de alguns alimentos torna o sangue mais alcalino apenas temporariamente. Já uma doença pode deixar o sangue com pH mais alto por mais tempo.

– Problemas nos rins

Os rins são essenciais para manter o equilíbrio de pH no corpo. Problemas renais podem aumentar o pH sanguíneo quando não são capazes de remover compostos alcalinos através da urina.

O tratamento consiste em identificar o dano no rim e tratar o problema. Existe também a possibilidade de usar medicamentos que ajudem a reduzir o pH do sangue.

– Alcalose respiratória

A alcalose respiratória é caracterizada pela falta de dióxido de carbono no sangue. Sintomas como a hiperventilação resultantes de febre alta, ansiedade e overdose de medicamentos como a aspirina podem resultar na alcalose respiratória.

Os sintomas da condição podem incluir formigamento nos dedos ou nos lábios, irritabilidade, cãibras musculares e espasmos.

– Perda de fluido

A perda de água pode aumentar o pH do sangue porque junto com a água, o corpo também perde eletrólitos presentes no sangue na forma de sais e minerais como o sódio e o potássio. A perda de fluidos pode acontecer por causa de suor excessivo, diarreia e vômito.

O uso de alguns fármacos que aumentam o volume ou a frequência de micção também pode deixar o pH do sangue elevado.

O modo de tratar a desidratação é ingerindo bastante água e líquidos em geral, além de repor os eletrólitos perdidos por meio da alimentação ou com bebidas eletrolíticas. Se a perda de líquidos for causada por algum medicamento, um médico deve avaliar a situação para substituir a medicação.

– Alcalose metabólica

A alcalose metabólica acontece quando os níveis de bicarbonato no sangue ficam elevados ou quando o corpo perde muito ácido. Essa condição pode resultar de períodos longos de vômito, pelo uso em excesso de remédios diuréticos ou devido à hiperatividade da glândula adrenal.

Danos renais devido à perda de líquidos ou a ingestão de muito bicarbonato de sódio também pode levar à alcalose metabólica. Os sintomas desta condição são semelhantes aos observados na alcalose respiratória.

Principais causas de acidose

A acidose sanguínea pode prejudicar o funcionamento de todos os órgãos no organismo e, infelizmente, é mais comum observar um pH do sangue mais baixo do que um pH mais alto do que o comum.

Algumas condições de saúde ocasionam o acúmulo de alguns ácidos naturalmente produzidos pelo corpo. É o caso do ácido lático, do ácido carbônico, do ácido sulfúrico, do ácido fosfórico, do ácido clorídrico e dos cetoácidos. Mesmo em pequenas concentrações, o acúmulo desses ácidos pode alterar o pH do sangue abaixo dos valores considerados ideais.

As causas mais comuns de acidose incluem:

– Cetoacidose diabética

Os diabéticos que não controlam seus índices glicêmicos adequadamente podem apresentar acidez no sangue. Tecnicamente, a cetoacidose diabética acontece quando o corpo não é capaz de produzir insulina suficiente ou de usar o hormônio do jeito correto.

A insulina é o hormônio responsável por auxiliar no metabolismo da glicose, transformado o açúcar ingerido em energia para as células. Quando não há insulina, o corpo não consegue obter energia dos carboidratos ingeridos e acaba queimando estoques de gordura para geração de energia. Esse é um ótimo mecanismo para quem quer perder peso, mas que pode elevar os níveis de glicose no sangue e gerar um resíduo ácido conhecido como cetona através da queima de gordura. É o acúmulo desse resíduo acido que causa a redução do pH do sangue normal.

Alguns sintomas de cetoacidose diabética incluem:

  • Dor de estômago;
  • Confusão mental;
  • Náusea;
  • Vômito;
  • Micção frequente;
  • Sede excessiva;
  • Falta de ar;
  • Hálito com cheiro de maçã;
  • Fadiga.

O controle dos níveis de açúcar no sangue é capaz de ajustar o pH do sangue, fazendo com que ele volte ao normal. O ideal é consultar um médico que vai te orientar sobre a sua alimentação, sobre um plano de atividades físicas e sobre a necessidade ou não de usar medicamentos antidiabéticos.

– Acidose respiratória

Ocorre quando os pulmões são incapazes de funcionar normalmente. Desta forma, o órgão não é capaz de retirar quantidades adequadas de dióxido de carbono do corpo, o que reduz o pH do sangue.

Essa condição geralmente acomete pessoas que sofrem de problemas como asma, bronquite, pneumonia, apneia do sono, problemas no diafragma e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Outros grupos de risco incluem pessoas que passaram por algum tipo de cirurgia, pessoas obesas ou aquelas que abusam do uso de remédios para dormir ou analgésicos opiáceos.

Quando a acidose respiratória é leve, os rins conseguem remover o excesso de ácido do sangue por meio da urina. Ainda assim podem ser necessários oxigênio extra ou medicamentos como broncodilatadores ou esteroides para ajudar os pulmões a funcionar corretamente.

Em situações graves, procedimento como intubação e ventilação mecânica podem ser úteis para ajudar os pacientes a respirar e a aumentar o pH do sangue até atingir valores normais.

– Dieta

Uma dieta desequilibrada pode alterar o pH do sangue. Hábitos como comer muito pouco ou passar longos períodos de tempo sem comer podem deixa o sangue ácido.

Alimentos que podem causar o acúmulo de ácidos no organismo e reduzir o pH do sangue são ovos, carnes, peixes, aves como frango e peru, produtos lácteos e grãos como farinha, arroz e macarrão.

Uma forma de tentar reverter esse quadro naturalmente é tendo uma dieta equilibrada em que alimentos que formam substâncias alcalinas no organismo também sejam consumidos. Exemplos incluem legumes e frutas.

– Exercício físico intenso

A prática de atividades físicas muito intensas pode resultar na queda temporária do pH do sangue.

Durante a atividade, o corpo precisa de fontes de energia o tempo todo. A energia pode ser obtida através do metabolismo aeróbico ou anaeróbico. O metabolismo aeróbico é aquele em que o corpo usa oxigênio para usar o estoque de energia, enquanto que no metabolismo anaeróbico o corpo é capaz de produzir energia mesmo sem oxigênio.

Isso é muito útil durante o exercício físico, já que em exercícios muito extenuantes é difícil respirar normalmente e não há oxigênio em abundância para obtenção de energia. Nesse momento, o metabolismo anaeróbico entra em ação para que seu organismo continue conseguindo fontes de energia mesmo sem tanto oxigênio disponível.

Em ambos os casos pode ocorrer uma redução no valor do pH do sangue, mas no mecanismo anaeróbico, a queda pode ser mais drástica devido à formação de um subproduto chamado de piruvato, que é convertido em ácido lático, que quando acumulado no corpo pode causar a diminuição do pH do sangue.

A boa notícia é que, conforme o exercício se torna frequente, o corpo se adapta e deixa de acumular grandes quantidades de ácido lático durante a atividade.

– Acidose metabólica

A acidose metabólica é a redução do pH do sangue causada por doença ou insuficiência renal. O mau funcionamento dos rins faz com que ocorra um acúmulo de ácidos no sangue que causam a redução do pH.

Segundo a National Kidney Foundation, os sintomas de acidose metabólica são fadiga, perda de apetite, dor de cabeça, pulsação rápida, respiração pesada, náusea e vômito.

O tratamento pode incluir a administração de medicamentos para auxiliar os rins em seu funcionamento. Quando o problema é grave, pode ser preciso realizar uma diálise ou um transplante de rim.

Tratamentos

O tratamento pode variar de acordo com a causa da variação do pH sanguíneo e com a orientação médica específica, mas de uma maneira geral, o tratamento da acidose pode consistir em uso de:

  • medicamentos para dilatar as vias aéreas, facilitando a respiração;
  • insulina ou fluidos intravenosos para tratar a cetoacidose;
  • bicarbonato de sódio oral ou intravenoso para aumentar o pH do sangue;
  • dispositivo de pressão positiva continua nas vias aéreas que facilita a respiração;
  • citrato de sódio para tratar a insuficiência renal.

A alcalose pode ser tratada através das seguintes estratégias:

  • oxigenoterapia;
  • consumo de líquidos ou de bebidas eletrolíticas para restaurar o equilíbrio eletrólito e ajustar o pH;
  • respiração lenta em casos de hiperventilação;
  • suplementos contendo nutrientes como cloreto ou potássio para restaurar o equilíbrio do pH.

Considerações

Níveis anormais do pH do sangue podem indicar um desequilíbrio metabólico ou um problema de saúde. Normalmente, o pH é regulado ao tratar a causa do desequilíbrio.

Pessoas com doenças crônicas como diabetes ou doença renal devem realizar exames de rotina para checar o pH do sangue, já que isso indica se a condição de saúde está bem controlada ou não.

Mesmo que flutuações no pH do sangue ocorram uma vez ou outra, pessoas saudáveis não precisam se preocupar com isso, já que nesses casos o organismo é absolutamente capaz de regular o pH por si só. Ainda assim, vale a pena prestar atenção na alimentação, que deve ser sempre bem equilibrada e saudável.

Quando alterações constantes no pH normal do sangue são observadas, as causas de acidose ou alcalose devem ser devidamente diagnosticadas e tratadas por médico.

Fontes e Referências Adicionais:     

Você já teve alguma condição relacionada ao pH do sangue diagnosticada? Qual delas e como foi o tratamento recomendado pelo médico? Comente abaixo!

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Sobre Felipe Santos e Dra. Patrícia Leite

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