Katia Diniz, 60 anos, realizou um procedimento estético em 2019 com a intenção de diminuir as linhas de expressão em torno do nariz e da boca, conhecidas como bigode chinês.
No entanto, a advogada enfrentou problemas de saúde ao descobrir que, no lugar de fios de colágeno, o profissional havia utilizado polimetilmetacrilato (PMMA).
Um ano após a aplicação, ela começou a ter inchaços e dores na região do nariz. Entretanto, não deu muita importância, por suspeitar que estivesse com Covid-19. Katia sentiu os primeiros sintomas em meio à pandemia, ou até mesmo que estivesse enfrentando alguma reação à vacina contra a doença.
Dias se passaram e o nariz da paciente ficou roxo. “Eu nunca tinha ouvido falar desse produto e já estava muito mal quando veio o resultado dos exames de imagem. Foi desesperador, chorei achando que ia morrer. Nunca tive nada e de repente estava tão inflamada que até meus pulmões tinham sido atingidos”, relatou ao site Metrópoles.
Katia teve uma sarcoidose, formação de células inflamatórias anormais que se espalham pelos órgãos, principalmente pulmão e sistema linfático. No caso dela, granulomas fixaram na parede dos pulmões a partir da inflamação do nariz.
Esses granulomas são formados pelo organismo a fim de encapsular e expulsar o gel que foi injetado. Essa é uma das reações adversas mais comuns à aplicação do PMMA. “Com certeza, sem o acompanhamento médico a tempo, o nariz teria necrosado e meu pulmão teria sido mais gravemente comprometido”, disse.
“Meu organismo começou a ter reações inflamatórias e autoimunes para tentar expulsar o PMMA. Até hoje, não posso usar nenhum produto estético, nem os mais seguros, já que a reação do meu corpo é imprevisível”, acrescentou.
A advogada passou por um tratamento experimental, iniciado em fevereiro de 2023, para reduzir a inflamação e conseguiu resultados satisfatórios em menos de um mês. Foi feita a aplicação do citrato de tofacitinibe, remédio indicado para artrite reumatoide. O caso tornou-se tema de um estudo que será publicado em breve no Indian Journal of Dermatology.
Em nova tomografia computadorizada da região do tórax, notou-se que houve a redução substancial no número e tamanho dos nódulos que estavam colados na parede do pulmão da paciente. O tratamento, no entanto, não é capaz de retirar o produto, apenas reduz a inflamação dos tecidos, ensinando as defesas do corpo a controlar a resposta à substância.
Com o uso do medicamento experimental, Katia não precisou fazer cirurgia plástica para retirar o PMMA. “É horrível conviver com esse produto no meu rosto até hoje, mas as cirurgias são tão agressivas que o ideal é monitorar e manter o tratamento”, contou.
Agora, a advogada espera conseguir uma reparação na Justiça. “A substância é permitida e seria muito difícil reunir provas de que meu caso foi negligência. Além disso, o tratamento foi tão custoso, a ponto de vista financeiro e emocional, que não me sinto com forças para lutar por mim mesma”, concluiu.
O PMMA é um gel plástico indicado para casos específicos e graves, como perda de massa associada ao HIV e à poliomielite. O produto só pode ser removido por meio de cirurgias muito invasivas e pode ser preciso retirar grandes partes de tecido onde o produto está aderido.
A substância adere aos músculos e nervos como um chiclete. Ela não é absorvida pelo corpo, como com o ácido hialurônico ou colágeno. A aplicação indevida do PMMA pode levar a comprometimentos renais, neurológicos e até ao óbito. Saiba mais: PMMA: entenda os riscos após influencer perder parte do lábio.
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