Em uma inovadora abordagem na luta contra a malária, pesquisadores estão utilizando a engenharia genética para modificar mosquitos e evitar que eles transmitam a doença. A iniciativa, que promete revolucionar o combate a esta enfermidade, teve experimentos recentes realizados na ilha do Príncipe, na África Central.
Neste experimento, 11 mil mosquitos foram soltos com um revestimento de pó verde fluorescente. Nas dez noites que se seguiram, um conjunto de pessoas voluntárias permaneceu ao ar livre em suas aldeias, deixando braços e pernas à mostra. Aguardavam o sutil contato de um mosquito em busca de sangue.

Quando um mosquito se aproximava, os indivíduos ligavam uma lanterna na cabeça e, com a ajuda de um tubo de borracha conectado a um recipiente de vidro, capturavam o inseto. Esses mosquitos foram cultivados desde a fase larval, tingidos de verde e, posteriormente, liberados por um grupo global de pesquisadores. Estes cientistas buscam aplicar avanços genéticos na batalha contínua contra a malária.
De todos os 253 mosquitos capturados, doze deles exibiam vestígios do brilho verde do pó que se fixou em suas estruturas escamosas. Estes insetos luminescentes forneceram dados sobre o quão longe viajaram e a dimensão da comunidade de mosquitos, fornecendo insights sobre a progressão da malária na região. Além disso, ajudaram os pesquisadores a avançar em direção ao seu propósito: substituir os mosquitos locais por versões geneticamente alteradas que não possam propagar o parasita.
A abordagem central da pesquisa é liberar mosquitos geneticamente modificados para acasalarem com os mosquitos selvagens locais. A técnica de engenharia genética utilizada, conhecida como “gene drive”, tem o potencial de, em poucas gerações (que, para mosquitos, representa apenas alguns meses), tornar toda a espécie Anopheles coluzzi local imune ao parasita da malária. Os testes de laboratório já demonstraram sucesso em modificar o Anopheles coluzzi, impedindo-o de carregar o parasita.
No entanto, o caminho para erradicar a malária tem seus desafios. Naquele lugar, assim como em outros países que reduziram muito os casos de malária, os mosquitos tornaram-se resistentes a todos os inseticidas vendidos. Além disso, eles mudaram a forma de agir, agora picando ao ar livre e durante o dia, e não apenas dentro das casas e à noite, como era comum na transmissão da doença.
Em outras palavras, o parasita está se adaptando para resistir aos tratamentos mais usados. Além disso, os investimentos em combate à malária não têm crescido, mesmo com o aumento dos custos das intervenções necessárias.
Greg Lanzaro, geneticista molecular da Universidade da Califórnia e líder da equipe de pesquisa, expressou otimismo em relação à abordagem. Ressaltou que o método não apenas precisa ser eficaz, mas também econômico e sustentável.
Contudo, o uso de mosquitos geneticamente modificados gera questões éticas e ambientais. Muitos países africanos ainda não possuem regulamentações para essa tecnologia, e há preocupações sobre os possíveis impactos ecológicos e riscos associados.
Yata Mota, residente de São Tomé, compartilha esses temores, destacando a incerteza do projeto. Como precaução, a equipe escolheu São Tomé e Príncipe, um local com tráfego internacional limitado, para o experimento. Além disso, os pesquisadores têm um plano de contingência para exterminar a população de mosquitos modificados, caso seja necessário interromper o projeto.