Em algumas culturas brasileiras, principalmente do Norte, Nordeste e região central do país, existe uma expressão antiga, ligada à sabedoria popular, que indica alguns alimentos como “remosos” ou “reimosos”.
Diz-se que essas expressões chegaram ao Brasil com os colonizadores portugueses e até hoje permanece não só no vocabulário como na cultura alimentar de muitas pessoas.
Não existe uma lista oficial do que é ou não é um alimento desta categoria, inclusive porque há muitas situações que podem tornar um alimento remoso. Mas o que isso significa? O leite é remoso, por exemplo?
O que são alimentos remosos
De acordo com uma pesquisa realizada por Mauro Andre Costa de Castro da Universidade Federal do Pará, a “reima” está ligada a questões impostas pelas práticas cotidianas das populações, e do ponto de vista científico e biológico, não possui lógica nem qualquer fundamentação médico-científica.
Outra pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás – UFG define a “reima” como uma característica que torna o alimento ofensivo para certos estados do organismo de acordo com a cultura alimentar popular.
Essas expressões – reima, remoso, reimoso – costumam estar presentes nas conversas de caboclos, pescadores, indígenas ou agricultores de diversas regiões, sendo mais comum no Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
Todos os alimentos são compostos por substâncias características que podem gerar reações imunológicas importantes, e alguns deles foram classificados por algumas culturas como alimentos “remosos” ou o oposto, alimentos “mansos”.
As pessoas consideram alimentos remosos, também chamados de alimentos carregados, aqueles que podem provocar inflamações na pele por reação alérgica e costumam ter uma alta concentração de gordura animal e concentração de proteína.
“O que o povo chama de reima pode ser considerado um alergênico, que provoca reações em determinadas pessoas: coceira, diarreia e até intoxicações mais sérias em pacientes alérgicos”, afirmou a nutricionista da Universidade Estadual do Ceará, Maria Lúcia Sá.
Considera-se que certas espécies animais e vegetais possuem “reima” sem que exista qualquer regra geral para a classificação, ou seja, o que pode ser considerado um alimento remoso para um não necessariamente é para outro.
Em algumas comunidades, um alimento “remoso” é um alimento prejudicial para mulheres em pós-parto ou menstruadas, pessoas feridas ou “puras” – pugadas.
Em oposição aos alimentos remosos, estão os alimentos “mansos” ou “fracos”, ou seja, aqueles que não atrapalham o equilíbrio natural do corpo ou da digestão.
Mas e quanto ao leite? O leite é remoso?
O que define se um alimento é “remoso” ou “descarregado”, “fracos”, varia entre cada região, e de acordo com o resultado de várias pesquisas, os considerados remosos são no geral, algumas carnes e vegetais verdes.
A pesquisa realizada pela UFG – Universidade Federal de Goiás, denominada “Cultura da Reima em Comunidades Rurais de Catalão: Estudo do Vocabulário de Restrições Alimentares” concluiu que, como não há uma classificação única para o que é ou não é um alimento remoso, o que pode ser considerado por um indivíduo ou comunidade pode não ser para outro.
Porém, dentre os alimentos mais referenciados como remosos estão a carne de porco, banha (de porco), manga, pequi, milho verde, pimenta, frutos do mar, peixes de couro, jurubeba, carne vermelha, abobrinha, chocolates, ovos e abacate.
No geral, os alimentos remosos são aqueles com cargas proteicas e/ou lipídicas muito altas que causam inflamações características; momento ou estado de vida em que o corpo passa por transformações/mudanças fisiológicas.
Embora muitas pessoas sejam alérgicas ao leite ou intolerantes a lactose, ou seja, este alimento pode causar processos de inflamação nas pessoas, ele não é citado como um alimento remoso nas pesquisas científicas realizadas em várias regiões do Brasil.
O que torna um alimento remoso ou não também está ligado a várias situações ou estados de saúde ou doença, como por exemplo a gravidez, menstruação, ferimentos, expectoração, convalescença, luto, pós-parto, etc. Há também quem considere um alimento “remoso” qualquer coisa que faça mal ao sangue.
Por se tratar de algo da cultura popular brasileira, você poderá encontrar várias hipóteses e versões sobre os alimentos remosos, porém, em relação à dúvida se o leite é remoso, a grande maioria afirma que não, ele não é.
Se a pessoa tem uma tendência a acumular muco ao consumir leite, poderia se dizer que o leite é remoso para ela. Se ela está se recuperando de uma doença, não é interessante adicionar um alimento que debilita de alguma forma o organismo.
Fontes e Referências Adicionais:
- http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/pivic/trabalhos/JOSE%20NEIVA%20MESQUITA%20NETO.pdf
- http://www.dan.unb.br/images/pdf/anuario_antropologico/Separatas1977/anuario77_raymundomaues.pdf
- http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/34493/1/S1415-52732007000200010.pdf
- http://www.marizapeirano.com.br/teses/proibicoes_alimentares.pdf