A hemorragia menstrual, ou menorragia, é uma condição clínica marcada por um sangramento excessivo durante a menstruação. Esse excesso pode se dar no volume de sangue perdido, na duração do período menstrual, ou no aumento da frequência de períodos de sangramento ao longo do ciclo.
Algumas vezes, a hemorragia menstrual é um caso isolado, sem causa definida e que se resolve naturalmente. Em outras, ela está associada a doenças que afetam o útero, que precisam ser diagnosticadas e devidamente tratadas, caso contrário podem gerar complicações, como anemia por deficiência de ferro.
Veja mais detalhes sobre a hemorragia menstrual, os sintomas, as possíveis causas e como são feitos o diagnóstico e o tratamento.
Hemorragia menstrual: o que é?
A hemorragia menstrual é tratada na medicina como menorragia, uma condição anormal em que se tem um sangramento uterino intenso durante a menstruação.
Em termos técnicos, ela é caracterizada pela perda de mais de 80 mL de sangue durante a menstruação, porém este parâmetro é muito difícil de medir.
Na prática, alguns sinais podem indicar que você está eliminando esse volume excessivo de sangue:
- Você precisa trocar o absorvente a cada 2 horas, durante várias vezes no dia.
- O volume do fluxo é tão alto, que transborda o absorvente e mancha suas roupas.
- Você utiliza um absorvente interno junto com um externo, ou dois absorventes externos, senão o fluxo mancha suas roupas.
- Precisa trocar o absorvente durante a noite ou utilizar dois, senão o fluxo mancha a roupa de cama.
O que é normal e esperado na menstruação
Uma menstruação normal causa a eliminação de 25 até 80 mL de sangue, o que demanda uma troca de absorvente a cada 6 ou 4 horas.
O período menstrual (de sangramento) não dura mais do que 7 dias, sendo normal um intervalo de 5 a 7 dias. O ciclo menstrual, que é constituído por todas as fases, folicular, ovulatória e lútea, dura entre 21 e 35 dias.
Alterações na frequência do período menstrual e em sua duração também podem configurar um quadro de menorragia. Por exemplo, menstruar em outras fases do ciclo, que não o período menstrual, é um sinal de hemorragia menstrual, assim como ter um período menstrual que se estende para além de 7 dias.
Sinais e sintomas de hemorragia menstrual
Os sinais de hemorragia menstrual são as irregularidades no período menstrual:
- Volume de sangue eliminado é superior a 80 mL.
- Fluxo menstrual com duração superior a 7 dias.
- Sangramentos anormais fora do período menstrual do ciclo.
Esses sinais podem ser acompanhados de sintomas associados à principal complicação da menorragia, que é a anemia ferropriva. Nesse caso, a mulher apresenta:
- Fadiga
- Dispneia: desconforto respiratório, falta de ar.
- Tontura
- Palidez
- Queda de cabelo
- Falta de apetite
Possíveis causas de hemorragia menstrual
A menorragia pode ser idiopática, quando não se identifica uma causa a ocorrência da hemorragia menstrual.
Quando ela não é idiopática, as causas mais comuns são essas:
- Sangramento uterino disfuncional: pode ocorrer em qualquer período da vida reprodutiva da mulher, mas é mais comum após os eventos extremos, menarca e menopausa, ou seja, primeira e última menstruação, devido às oscilações hormonais. Nesse caso a hemorragia menstrual não tem relação com qualquer doença pélvica.
- Miomas uterinos: tumores benignos que podem se desenvolver na musculatura lisa do útero, especialmente na idade fértil da mulher.
- Adenomiose: crescimento de glândulas e células do endométrio em regiões profundas da camada intermediária da parede do útero (miométrio).
- Distúrbios de coagulação: é o mecanismo natural de coagulação que limita o sangramento durante o período menstrual. Se houver qualquer tipo de problema envolvendo as plaquetas (baixo número de plaquetas no sangue), os fatores de coagulação, ou uso de medicações anticoagulantes, pode haver hemorragia menstrual.
- Pólipo endometrial: tumores geralmente benignos, que se desenvolvem no endométrio, a camada que reveste a cavidade uterina. Eles são constituídos de pequenos vasos, que podem se romper e sangrar durante a menstruação, causando as irregularidades.
- Câncer de endométrio: esta deve ser a primeira suspeita em caso de hemorragia menstrual após a menopausa, trata-se do câncer que atinge o revestimento da cavidade uterina.
- Endometriose: crescimento de tecido endometrial fora do útero, atingindo outros órgãos da cavidade pélvica e abdominal.
- Doença inflamatória pélvica (DIP): infecções sexualmente transmissíveis, como clamídia e gonorreia, podem causar inflamação no útero, levando a um sangramento intenso.
Diagnóstico de hemorragia menstrual
A investigação das possíveis causas mencionadas se inicia com um exame físico da pelve (exame ginecológico), por meio do qual o médico ou a médica ginecologista procura a origem do sangramento. Nesta ocasião, pode ser feito o exame de papanicolau, para investigar se há anormalidades no colo do útero.
Se a mulher estiver em idade fértil, será feito um teste de gravidez, para afastar a hipótese de gestação em fase inicial ou aborto espontâneo.
Outro exame que pode ajudar a identificar a causa da hemorragia menstrual é o hemograma completo, para ver como estão os níveis hormonais e as funções do fígado e da tireoide.
Se a mulher estiver com hipotireoidismo, seus fatores de coagulação podem ficar alterados no sangue, levando a quadros de hemorragia menstrual. Para verificar como está a coagulação do sangue, pode-se fazer um coagulograma completo.
Com o hemograma, também é possível verificar se a mulher com fluxo intenso desenvolveu anemia, uma complicação comum da hemorragia menstrual.
Os miomas e os pólipos uterinos são investigados com exames de imagem, normalmente a ultrassonografia, que já permite a identificação de qualquer anormalidade na estrutura do útero.
Caso se levante a hipótese de câncer, um fragmento da massa suspeita é coletado e analisado em microscópio, que é o exame de biópsia, o teste padrão-ouro no diagnóstico de câncer.
Tratamento da hemorragia menstrual
Descoberta a causa da hemorragia menstrual, se inicia o tratamento mais apropriado. Casos de menorragia idiopática ou de sangramento uterino disfuncional muitas vezes se resolvem sozinhos, sem necessidade de nenhum tratamento.
Mas, é importante que, na presença de um fluxo muito intenso e na ausência de um tratamento específico possível, a mulher seja acompanhada com exames de sangue regulares, para saber se está estável ou se desenvolveu uma anemia.
Caso não esteja estável ou tenha desenvolvido anemia, é preciso fazer a administração de fluidos por via intravenosa ou terapia de reposição de ferro.
Geralmente, os casos de hemorragia menstrual são tratados com anticoncepcionais. O tratamento de primeira linha é o DIU Mirena, um dispositivo intrauterino que libera progesterona e dura até 5 anos.
O tratamento de segunda linha é feito com medicações por via oral, que podem ser pílulas anticoncepcionais combinadas, ácido tranexâmico ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), para controlar o excesso de sangramento.
Como tratamento de terceira linha, existe a mini-pílula, que contém apenas progesterona em sua composição.
Por fim, existem os tratamentos cirúrgicos reservados para aqueles casos em que há presença de miomas, aderências intrauterinas, pólipos uterinos e endometriose. Essas anomalias podem ser removidas cirurgicamente.
Em casos graves de anomalias no útero ou de câncer, pode ser necessária a histerectomia, que consiste na remoção cirúrgica do útero e, possivelmente, das tubas uterinas (trompas de falópio) e ovários também.
Fontes e referências adicionais
- Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da menorragia na adolescência, Reprodução e climatério, 2000; 15(2): 77-81.
- Manejo simplificado da menorragia, Femina, 2003; 31(9): 813-818.
- Ablação histeroscópica do endométrio no tratamento da menorragia: seguimento de 200 casos, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2001; 23(3): 169-173.
- Uso de recursos e custos associados ao tratamento da menorragia idiopática com o sistema intra-uterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG) versus histerectomia: perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), Jornal Brasileiro de Economia da Saúde; 2012; 4(2): 373-381.
Fontes e referências adicionais
- Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da menorragia na adolescência, Reprodução e climatério, 2000; 15(2): 77-81.
- Manejo simplificado da menorragia, Femina, 2003; 31(9): 813-818.
- Ablação histeroscópica do endométrio no tratamento da menorragia: seguimento de 200 casos, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2001; 23(3): 169-173.
- Uso de recursos e custos associados ao tratamento da menorragia idiopática com o sistema intra-uterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG) versus histerectomia: perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), Jornal Brasileiro de Economia da Saúde; 2012; 4(2): 373-381.