O paracetamol sempre foi visto como um remédio seguro para as grávidas, mas um novo consenso científico chamou atenção para os perigos oferecidos ao desenvolvimento do bebê, se ele não for administrado com cautela e sob prescrição médica.
A Agência Europeia de Medicamentos (European Medicines Agency – EMA) aconselha o uso da menor dose efetiva, pelo menor tempo possível, para o alívio das dores e da febre na gestação.
Dentre os medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não-esteroidais, o paracetamol é, com certeza, a medicação mais segura. O problema é que a maior parte das pessoas negligenciam os riscos da medicação, tratando-os como insignificantes e acabam abusando do medicamento.
Veja mais detalhes sobre o uso do paracetamol pelas grávidas e entenda sobre os riscos envolvidos.
Possíveis riscos do paracetamol às grávidas
O paracetamol (acetaminofeno, N-acetil-p-aminofenol) é um remédio muito usado para tratar dores leves a moderadas e febre.
Um novo artigo científico publicado em uma conceituada revista internacional, a Nature Reviews Endocrinology, fez uma revisão de pesquisas epidemiológicas e de estudos feitos em laboratório com células e modelos animais, publicados nos últimos 25 anos, e encontrou os seguintes efeitos adversos associados ao uso da medicação na gravidez:
- Alteração do desenvolvimento fetal
- Aumento dos riscos de distúrbios no desenvolvimento do sistema nervoso: principalmente transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e problemas na aquisição da linguagem.
- Riscos ao desenvolvimento reprodutivo e urogenital: os estudos mostraram maiores riscos de criptorquidia (testículos não descidos), distância anogenital reduzida e infertilidade na idade adulta.
Então, grávida não pode tomar paracetamol?
Isso não quer dizer que as gestantes não devem ter suas dores agudas e persistentes tratadas com medicamentos, muito menos deixá-las com febre. Até porque a exposição do útero à febre também é prejudicial à gravidez, podendo resultar em danos ao tubo neural do bebê e problemas cardiovasculares futuros.
O médico ou médica obstetra é quem avaliará os riscos de se administrar o paracetamol para tratar episódios de dor e febre. A recomendação mais atual é de que seja usada a dose efetiva mais baixa, pelo menor tempo possível.
Por isso, é muito importante que as grávidas não se automediquem, pois somente o profissional que acompanha a gestação é capaz de indicar a dosagem e seu tempo de uso, de modo a evitar riscos ao desenvolvimento do bebê.
Como todo estudo científico, este também possui suas limitações, e os autores relatam a necessidade de se fazer estudos mais robustos envolvendo humanos, além dos modelos animais e estudos em laboratórios com células.
De qualquer forma, os dados são estatisticamente significativos e apontam para os riscos relatados. Por isso, vale o alerta às gestantes e, também, aos profissionais de saúde para se atentarem às dosagens e ao tempo de uso prescritos às pacientes.
É válido o alerta dos riscos do paracetamol?
Esse alerta é válido principalmente porque o medicamento é barato, de venda livre e sempre foi considerado inofensivo às gestantes e aos bebês.
Então, para qualquer sintoma leve, que poderia ser administrado de forma não medicamentosa, se faz o uso do paracetamol, deliberadamente.
Outra razão do alerta é que muitos dos efeitos adversos aparecem anos após o nascimento da criança e não se faz a associação do problema ao uso do paracetamol durante a gravidez.
Por exemplo, um adulto infértil pode passar anos tentando encontrar a causa do seu problema, sem desconfiar dos efeitos do paracetamol usado pela mãe durante sua gestação.
Da mesma forma, o TDAH e as dificuldades na aquisição da linguagem durante a infância não são associados ao uso da medicação pela mãe, quando estava grávida.
Alívio das dores comuns na gravidez sem usar paracetamol
Existem muitas formas de aliviar as dores comuns na gravidez sem usar remédios, como o paracetamol.
No primeiro trimestre da gravidez, é comum a gestante sentir dores nos seios, sofrer com muito inchaço, enjoo e dor de cabeça ou enxaqueca.
Para as dores nos seios, recomenda-se o uso de sutiãs com alças largas e apoio nas costas. Eles dão mais sustentação, diminuindo bastante o desconforto e a dor.
Uma recomendação preventiva que, muitas vezes é negligenciada, é o cuidado com a alimentação. Se você fizer refeições com menos sal, menos gordura e ingerir bastante água e sucos de frutas sem adicionar açúcar, seu corpo não vai reter tanto líquido.
Ao evitar a retenção de líquidos, você diminui as chances de sentir dores nas pernas, nos pés e na cabeça. Veja outras dicas de como aliviar a dor de cabeça na gravidez.
Outra dica é se alimentar de pequenas porções a cada 3 horas, evitando que seu estômago fique vazio ou que você coma grandes quantidades de uma vez. Fazendo isso, você terá menos enjoos.
Uma opção terapêutica bastante relaxante e que pode te ajudar com dores de cabeça e nos pés é o escalda-pés, veja como fazer.
Com o crescimento do bebê, é natural sentir dor no “pé da barriga“, parecida com uma cólica menstrual. Para aliviar essa dor, você pode usar bolsas térmicas no local.
As dores nas costas e na virilha podem ser aliviadas com alongamentos e a hidroginástica.
Fontes e referências adicionais
- Caution needed: paracetamol use in pregnancy, Nature Reviews Endocrinology, 2021 Set; 17: 699.
- Chronic pain during pregnancy: a review of the literature, Int J Womens Health. 2018 Apr 9;10:153-164
Fontes e referências adicionais
- Caution needed: paracetamol use in pregnancy, Nature Reviews Endocrinology, 2021 Set; 17: 699.
- Chronic pain during pregnancy: a review of the literature, Int J Womens Health. 2018 Apr 9;10:153-164