Recentemente, o ex-jogador da NFL (liga nacional de futebol americano), Russell Okung, surpreendeu os seus fãs e as pessoas que o acompanham nas redes sociais ao compartilhar a sua transformação física após perder mais de 45 kg.
O método utilizado por ele foi um jejum bastante rígido, no qual Okung não consumiu nada além de água ao longo de 40 dias. O ex-atleta não deu mais detalhes sobre a dieta, como por exemplo, se passou os dias em repouso ou se usou suplementos alimentares.
É importante ressaltar que o jejum prolongado, independentemente de sua duração, requer acompanhamento médico para evitar riscos à saúde. Tanto que a abordagem radical do ex-jogador fez com que especialistas alertassem quanto aos riscos desse tipo de prática.
Segundo o clínico geral Paulo Camiz, um jejum tão longo só é possível quando o indivíduo tem um alto estoque de gordura corporal, que serve como combustível para o funcionamento do organismo durante o período sem alimentação.
O organismo durante um jejum

Até existem culturas que adotam jejuns longos. Um exemplo é o mês sagrado do ramadã para os muçulmanos, período em que um jejum é realizado por 29 ou 30 dias. No entanto, esse jejum não é sem interrupção: o período sem alimentação abrange somente a aurora até o pôr do sol.
Mas, o que será que acontece com o corpo de uma pessoa que está em jejum? Bem, inicialmente, o organismo busca sempre se adaptar para funcionar, dentro do que se chama de homeostase, um equilíbrio.
O endocrinologista e médico do esporte Ronaldo Arkader explicou que, nesse caso, com o jejum se inicia um processo de cetose, no qual se utiliza a gordura como fonte de energia, dependendo da composição corporal da pessoa.
Conforme o o clínico geral Paulo Camiz, a técnica costuma gerar perda de peso justamente por utilizar a gordura como primeira fonte de combustível. Segundo ele, isso preserva mais a massa muscular do que uma uma dieta hipocalórica, por exemplo.
Perigos do jejum prolongado
No entanto, depois que o corpo consome o seu tecido adiposo, ou seja, de gordura, inicia-se o processo de consumo de músculos. Isso pode levar a danos em diferentes órgãos e sistemas, alertou Arkader.
Além disso, o jejum prolongado pode acarretar deficiências de vitaminas e minerais essenciais, comprometendo a imunidade, a saúde óssea e o funcionamento do sistema nervoso. Há ainda o risco de desequilíbrio eletrolítico, afetando o coração e a pressão arterial.
A nutricionista Patrícia Soares advertiu que o jejum prolongado pode causar desnutrição e desencadear um processo chamado termogênese adaptativa. Trata-se da redução da taxa metabólica basal do corpo, que ocorre quando uma pessoa perde peso e dificulta a manutenção do peso perdido.
Essa fase de funcionamento do organismo diminui a atividade do sistema nervoso simpático e reduz a produção do hormônio da tireoide, podendo levar ao hipotireoidismo.
Riscos para o coração e atividades físicas
Praticar atividades físicas durante um jejum tão prolongado é extremamente perigoso, afirmou Arkader. O músculo do coração pode ser afetado, resultando em uma redução da sua força de contração e da frequência cardíaca.
O especialista explicou que durante o jejum o organismo passa a consumir as suas próprias proteínas, como as do músculo cardíaco, depois de esgotar as suas reservas de gordura.
Além disso, a falta de eletrólitos e sais minerais pode piorar essas mudanças, representando um risco à saúde, o que inclui complicações graves, como uma parada cardíaca. As informações são do VivaBem UOL.
A importância da orientação profissional
Diante dos riscos envolvidos, é crucial que os profissionais de saúde estejam atentos e orientem os seus pacientes adequadamente.
Apesar da popularidade do jejum prolongado, a falta de evidências científicas só reforça a importância de abordar essa prática com cautela.
Até o momento, não existem muitos estudos de alta qualidade que justifiquem a prescrição de um jejum tão prolongado como método de perda de peso ou para promover benefícios à saúde.
Cabe aos profissionais de saúde serem sensíveis a esses riscos e desafios, identificando-os e orientando os pacientes sobre os caminhos mais seguros para alcançar os seus objetivos de saúde.
Em vez de adotar abordagens extremas, é recomendável buscar um equilíbrio saudável entre uma alimentação adequada, atividade física regular e o acompanhamento de profissionais qualificados.
Consulta médica e individualidade
É importante lembrar que cada indivíduo é único, portanto, as suas necessidades e respostas ao jejum podem variar.
Antes de embarcar em qualquer forma de jejum prolongado, é fundamental consultar um médico ou nutricionista para avaliar a adequação dessa prática ao seu estado de saúde específico e garantir a obtenção de todos os nutrientes necessários.
Portanto, embora histórias como a de Russell Okung possam chamar a atenção, é essencial considerar os riscos e benefícios potenciais do jejum prolongado.
A saúde e o bem-estar devem sempre ser priorizados, adotando abordagens equilibradas e seguras para alcançar metas pessoais de maneira sustentável.