A embolia gordurosa é um problema que causa a obstrução de vasos sanguíneos devido ao acúmulo de gordura. Apesar de não ser uma condição que afeta muitas pessoas e normalmente ser tratada pelo próprio organismo, que se encarrega de levar essa gordura embora, quando o acúmulo é muito grande podem ocorrer complicações de saúde.
Vamos entender o que é a embolia gordurosa, quais são os principais sintomas e causas da condição, além de discutir o tratamento disponível e os cuidados que devem ser tomados para evitar que o problema se agrave.
Embolia gordurosa – O que é?
A embolia gordurosa é uma condição de saúde em que há acúmulo de gordura intravascular, ou seja, quando gordura é acumulada dentro de um vaso sanguíneo. Essa condição é observada quando a gordura da medula óssea que se encontra dentro do osso escapa para a corrente sanguínea, formando êmbolos. Esses êmbolos podem bloquear o fluxo sanguíneos em vasos sanguíneos de órgãos como os pulmões, cérebro e a pele e causar complicações de saúde graves.
O êmbolo gorduroso, nome dado à massa de gordura acumulada no vaso sanguíneo, geralmente afeta pessoas que sofreram fraturas ósseas nos ossos longos da parte inferior do corpo, como o fêmur, a tíbia e a pelve. Por causa da lesão no osso, a gordura acaba escapando da medula óssea.
De acordo com dados de pesquisas, a síndrome da embolia gordurosa atinge cerca de 3 a 4% das pessoas que sofrem algum tipo de fratura em ossos longos e em até 15% das pessoas que sofrem traumas múltiplos em ossos longos.
Apesar da maioria dos casos de êmbolos gordurosos se resolverem sozinhos, os casos que não desaparecem por si só ou que não são tratados de forma adequada acabando causando a síndrome da embolia gordurosa, uma condição rara que pode resultar em várias complicações de saúde como inflamações, dificuldade para respirar, disfunção múltipla de órgãos e alterações neurológicas que podem levar à morte.
Causas
Ainda não se sabe com certeza qual é a causa de êmbolos gordurosos e da síndrome da embolia gordurosa. A causa mais aceita até hoje é conhecida como a “teoria da obstrução mecânica”.
Nessa teoria, é considerado que quando ossos grandes do corpo (especialmente os da perna) quebram, sofrem uma fratura ou uma ruptura, a gordura presente na medula óssea pode escapar e penetrar na corrente sanguínea. Essa gordura acaba criando coágulos ou êmbolos gordurosos que obstruem a circulação do sangue geralmente na região dos pulmões, causando uma inflamação generalizada no organismo.
Teoricamente, isso também pode acontecer com ossos menores. No entanto, os ossos mais longos têm mais tecido adiposo, tornando o êmbolo gorduroso mais provável de ser formado. Além disso, a embolia gordurosa também pode acontecer por causa de complicações no parto ou em cirurgias como a lipoaspirações e problemas como pancreatite ou queimaduras.
Assim, a embolia gordurosa pode ser resultado de:
- Ossos grandes inferiores quebrados;
- Costelas quebradas;
- Queimaduras graves;
- Complicações na lipoaspiração;
- Pancreatite;
- Ferimentos graves;
- Biópsia na medula óssea;
- Diabetes;
- Terapia com altas doses de esteroides.
Algumas pessoas têm mais risco de desenvolver o problema do que outras. Os principais fatores de risco são:
- Ser homem;
- Ter idade entre 20 e 30 anos;
- Ter uma fratura fechada em que o osso quebrado não fica exposto através da pele;
- Apresentar fraturas múltiplas principalmente na parte inferior do corpo.
Sintomas
A embolia gordurosa ocorre cerca de 12 a 72 horas após a lesão e os sintomas podem variar de acordo com a artéria que foi bloqueada. Alguns dos sintomas incluem:
- Irritabilidade;
- Dor de cabeça;
- Agitação;
- Confusão mental;
- Convulsões;
- Alterações no batimento cardíaco;
- Falta de ar;
- Respiração rápida;
- Baixa concentração de oxigênio no sangue;
- Letargia;
- Problemas renais;
- Febre;
- Anemia;
- Trombocitopenia ou contagem baixa de plaquetas;
- Erupções cutâneas ou pequenas hemorragias visíveis no pescoço, ombros, axilas e ao redor dos olhos.
Diagnóstico
Não existe um teste específico para diagnosticar a embolia gordurosa. Mesmo com êmbolos gordurosos, os exames de imagem podem não mostrar alterações.
Para diagnosticar o problema, é preciso que o médico analise o histórico médico (incluindo um histórico de ossos quebrados) e peça uma série de testes como exames físicos, exames de sangue e exames de imagem como radiografias e tomografias computadorizadas. Além disso, se sintomas associados ao funcionamento do coração forem observados, é possível realizar um eletrocardiograma e um ecocardiograma.
O médico também analisa sintomas chamados de critérios de Gurd. Os principais critérios de Gurd incluem:
- Erupção cutânea petequial;
- Desconforto respiratório;
- Concussão mental.
Outros critérios de Gurd que são menos importantes são:
- Presença de gordura no sangue;
- Icterícia;
- Febre;
- Anemia;
- Disfunção renal;
- Pulsação rápida.
Se uma pessoa apresentar um ou mais dos critérios principais de Gurd e ao menos quatro critérios menos importantes é possível ter um diagnóstico exato de embolia gordurosa.
Tratamento
O êmbolo gorduroso é simples de ser tratado. Na maioria dos casos, o próprio fluxo sanguíneo expulsa a gordura acumulada nas artérias, que é reabsorvida pelo organismo. Porém, quando esse êmbolo gorduroso é muito grande ou quando há uma síndrome de embolia gordurosa em curso, pode ser necessário o acompanhamento médico.
Provavelmente, você precisará ser internado para que a equipe médica monitore seus níveis de oxigênio, já que algumas pessoas podem precisar de ajuda para respirar. Além disso, pode ser preciso receber fluidos intravenosos e medicamentos para aumentar o volume sanguíneo e ajuda na remoção da gordura acumulada nas artérias. Alguns medicamentos que podem ser prescritos pelo médico para ajudar a remover os êmbolos gordurosos incluem esteroides e anticoagulantes como a heparina.
Se houver complicações, a pessoa pode precisar ficar internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para garantir a oxigenação mínima e acompanhar condições vitais como frequência cardíaca, pressão arterial e temperatura corporal. Além disso, amostras de sangue podem ser coletadas e medicamentos como analgésicos, antibióticos ou sedativos podem ser usados para combater possíveis dores, infecções ou para facilitar o sono, respectivamente.
Além dos remédios administrados, pode ser que os médicos instalem um dispositivo de compressão nas pernas para evitar a formação de coágulos sanguíneos e use exames avançados de imagem para monitorar os êmbolos gordurosos. A recuperação total ocorre dentro de algumas semanas.
Riscos e complicações da embolia gordurosa
A embolia gordurosa geralmente é simples de ser tratada. No entanto, a síndrome da embolia gordurosa pode evoluir para um coma e até para a morte, principalmente em idosos ou em pessoas debilitadas e com outros problemas de saúde. Os casos mais graves ocorrem em regiões como o cérebro, os pulmões ou a pele e podem ser fatais em 10 a 20% das vezes.
Apesar disso, quando o tratamento é feito com cuidado, a maioria das pessoas se recupera bem do problema de saúde.
Dicas de prevenção e cuidados
Além de ficar atento aos fatores do risco, o principal cuidado para evitar a ocorrência de êmbolos gordurosos é evitar quebrar ossos, principalmente os ossos longos do corpo. Para isso, remova obstáculos e mantenha banheiros e a lavanderia sempre secos para evitar escorregões. Além disso, é importante praticar exercícios físicos que ajudem a melhorar o equilíbrio e que fortaleçam os ossos e músculos.
Se seus ossos quebrarem ou se você precisar realizar algum tipo de cirurgia ortopédica, é essencial ficar atento aos sintomas durante as primeiras horas seguintes ao evento. O médico provavelmente irá administrar medicamentos esteroides profiláticos que ajudam a evitar a síndrome da embolia gordurosa.
Se for necessário corrigir um osso quebrado, é importante que você se mantenha o mais imóvel possível até que a cirurgia seja feita. Além disso, a cirurgia deve ser feita o quanto antes em um prazo de até 24 horas para reduzir o risco de embolia gordurosa.
Fontes e Referências Adicionais:
- https://www.aci.health.nsw.gov.au/networks/icnsw/patients-and-families/patient-conditions/fat-embolism
- https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.114.010835
- http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-78522005000400010&script=sci_arttext&tlng=en
- https://study.com/academy/lesson/fat-embolism-definition-causes-symptoms-treatment.html
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3665122/
- https://www.uptodate.com/contents/fat-embolism-syndrome
- https://academic.oup.com/bjaed/article/7/5/148/534526