As refeições comuns em uma dieta mediterrânea mostraram ser responsáveis por diminuir o risco de desenvolvimento de câncer de próstata, cervical e colorretal. Ademais, os pratos podem diminuir em 17% o risco de mulheres de qualquer tipo de câncer.
A dieta mediterrânea também é número um para perda de peso saudável e redução da obesidade – fator de risco principal para o câncer e muitas outras doenças crônicas, como a diabetes tipo 2, doenças cardíacas e renais, derrame e mais.
Agora, um grande estudo observacional publicado no JAMA Network Open esclarece as formas pelas quais a dieta mediterrânea pode reduzir o risco de câncer.
“Isso foi um tanto surpreendente. A adesão à dieta mediterrânea foi associada a um menor risco de câncer relacionado à obesidade, independentemente do IMC (índice de massa corporal) ou distribuição de gordura”, afirma a primeira autora Inmaculada Aguilera-Buenosvinos, cientista pós-doutoral no departamento de medicina preventiva e saúde pública do Instituto de Pesquisa em Saúde da Universidade de Navarra em Pamplona, Espanha.
Aguilera-Buenosvinos, também cientista pós-doutoral na Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer da Organização Mundial da Saúde, completou: “Isso sugere que outros mecanismos — como redução da inflamação, melhora da saúde metabólica ou interações dietéticas com o microbioma — podem ser responsáveis pelos efeitos protetores”.
A dieta mediterrânea é baseada em plantas, com grande parte de cada refeição focada em frutas e vegetais, grãos integrais, feijões e sementes, com algumas nozes e uma forte ênfase em azeite de oliva extra virgem.
A carne vermelha é usada com moderação, apenas para dar sabor a um prato. O consumo de peixes gordurosos saudáveis, por sua vez, são recomendados, por serem riscos em ácidos graxos ômega-3. Ovos, laticínios e aves são consumidos em porções muito menores, se comparados a uma dieta ocidental tradicional.
Outras gorduras, como manteiga, são consumidas raramente ou nunca. Açúcar e alimentos refinados também devem ser evitados nesta dieta. De acordo com Lindsey Wohlford, nutricionista de bem-estar no Centro de Câncer MD Anderson da Universidade do Texas, em Houston, os planos de refeições baseados em plantas, como os da dieta mediterrânea, são ricos em fibras.
“As fibras contribuem para a saciedade e apoiam um microbioma saudável”, afirma Wohlford. “As plantas também são repletas de antioxidantes e fitonutrientes, que parecem reduzir a inflamação no corpo. Precisamos comer uma variedade de plantas para obter os diferentes nutrientes e antioxidantes que podem ajudar a reduzir o risco geral de câncer”, aponta a profissional, que não participou do estudo.
Os alimentos altamente processados são condenados, por conterem produtos químicos e aditivos que causam “danos oxidativos que podem levar ao câncer”, como aponta Neil Iyengar, professor associado de medicina no Weill Cornell Medical College e oncologista de câncer de mama no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, ambos em Nova York.
“O que colocamos em nossos corpos todos os dias pode impactar quase todas as funções do nosso corpo por meio de hormônios, tecido adiposo e muscular, e o delicado equilíbrio de bactérias em nosso intestino”, completa o profissional, que também não estava envolvido no novo estudo.
“Consumir uma dieta minimamente processada e baseada em vegetais pode ajudar a reduzir ou até mesmo reverter o dano oxidativo que uma dieta ruim pode causar ao nosso corpo”, afirma o especialista em um e-mail. “Também estamos começando a ver algumas evidências limitadas de que esse tipo de dieta — minimamente processada, rica em fibras e baseada em vegetais — pode até ajudar algumas terapias contra o câncer a serem mais eficazes”, diz Iyengar.
Como foi feito o estudo
Foram analisados os dados dietéticos e médicos de mais de 450 mil pessoas inscritas no European Prospective Investigation into Câncer and Nutrition, ou estudo EPIC, que contém informações de participantes entre 35 e 70 anos, de 1992 a 2000, em 23 centros de dez países.
Três desses países — Grécia, Itália e Espanha — são conhecidos por seu uso da dieta mediterrânea; os outros sete países (Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido) não são.
Os dados mostraram que pessoas que seguiram mais rigorosamente a dieta mediterrânea tiveram cerca de 6% menos risco de desenvolver cânceres relacionados à obesidade, se comparadas com aqueles com menor adesão, descobriu o estudo. Embora esse número possa parecer pequeno, a significância aumenta quando aplicada a populações maiores, segundo Aguilera-Buenosvinos. “Mesmo uma pequena redução no risco ao nível individual pode se traduzir em milhares de casos evitáveis de câncer quando aplicada ao nível populacional. Promover a adesão à Dieta Mediterrânea como um padrão alimentar de baixo custo, acessível e sustentável poderia ter um grande impacto nas estratégias de prevenção do câncer”, pontuou.
Fazer pausas ocasionais na dieta também ajudou a manter o câncer afastado – por mais que o resultado tenha sido mais efetivo em quem adotou por completo o estilo mediterrâneo.
“Em outras palavras, tudo bem ter uma refeição ‘fora da dieta’ de vez em quando. A dieta teve um efeito protetor ainda maior para fumantes, provavelmente porque fumantes começam com um risco maior em comparação com não fumantes”, afirma Iyengar.
Curiosamente, o estudo não encontrou evidências de que a dieta mediterrânea reduziu o risco de cânceres hormonais, como o de mama, o que contradiz pesquisas anteriores.
Fazer uma mudança radical no modelo de alimentação pode parecer difícil, a princípio. “Pode ser muito avassalador se você não está acostumado com a dieta mediterrânea ou com vegetais em geral. Estabeleça pequenas metas. Um bom primeiro passo é observar o que pode estar faltando em sua dieta, em vez de focar na remoção de alimentos proibidos”, declarou Wohlford.
Adicionar mirtilos à refeição matinal, comer um punhado de nozes como lanche e incluir uma salada no almoço são algumas dicas para começar, segundo a especialista. Depois, tente preencher mais seu prato do jantar com vegetais, grãos integrais e leguminosas, e considere uma fruta como sobremesa.
“Realmente queremos uma dieta consistente que possa ser mantida ao longo do tempo. Tentar uma dieta do estilo mediterrâneo por três ou quatro meses para atingir certas métricas não vai necessariamente reduzir seu risco de câncer. Você precisa adotar esse tipo de dieta consistentemente ao longo do resto da sua vida”, concluiu Wohlford.