A religião e a espiritualidade são partes importantes da vida de muitas pessoas que têm fé. Mas você sabia que elas também podem influenciar a saúde do coração?
Mais precisamente, passar por dificuldades nessas áreas poderia afetar negativamente o risco de problemas cardiovasculares.
Isso porque uma análise do Estudo sobre Estresse, Espiritualidade e Saúde (SSSH, sigla em inglês) apontou que a religiosidade e a espiritualidade podem alterar a expressão de proteínas que têm uma relação com a saúde cardiovascular.
A pesquisa avaliou 50 pessoas que desenvolveram doença cardiovascular e 50 pessoas sem doença cardiovascular de idade e sexo compatíveis. Essas pessoas participaram do Estudo de Mediadores da Aterosclerose em Sul-asiáticos Vivendo na América (MALASA, sigla em inglês).
O estudo MALASA envolveu sul-asiáticos da Área da Baía de São Francisco e da Grande Chicago, nos Estados Unidos. Os responsáveis pelo MALASA acompanharam os participantes por cerca de oito anos para investigar o que gera doença cardíaca no grupo.
Mais sobre a análise
A análise do SSSH apontou que podem existir perfis únicos de expressão de proteínas associados à doença cardiovascular nas populações sul-asiáticas dos Estados Unidos.
Aliás, essa é uma comunidade que já conta com índices altos de doenças cardiovasculares.
Os resultados da análise indicaram que as dificuldades espirituais modificaram significativamente o impacto de certas proteínas no risco de ter doenças cardiovasculares em sul-asiáticos moradores dos Estados Unidos.
Por exemplo, as dificuldades religiosas que poderiam afetar essas associações entre a expressão de proteínas e as doenças cardiovasculares seriam uma crise de fé. Outra possibilidade seria passar por adversidades e achar que está sendo punido ou abandonado por Deus.
O estudo foi o primeiro a analisar assinaturas proteômicas (perfil de proteínas) em relação à religião e espiritualidade em qualquer população.
Além disso, o trabalho foi o primeiro a avaliar a expressão de proteínas em relação a doenças cardiovasculares em uma população sul-asiática nos Estados Unidos.
A saber, a análise é de autoria de pesquisadores da Escola Médica de Harvard e da Universidade da Califórnia. Ela saiu no jornal científico Scientific Reports.
A palavra dos pesquisadores
De acordo com uma das autoras da pesquisa, a professora de medicina do Massachusetts General Hospital, Alexandra Shields, o estudo mostra que fatores psicossociais, especialmente os conflitos religiosos e espirituais, podem afetar processos biológicos que geram doenças cardiovasculares na população de alto risco avaliada.
Além disso, ela falou que antes de criar melhores intervenções para reduzir disparidades em termos de doenças cardiovasculares, é preciso entender as vias biológicas pelas quais se produz essas disparidades.
O professor de medicina da Escola Médica de Harvard Long Ngo também trabalhou na pesquisa.
Para ele, entender como o processo ocorre em um nível biológico através da tecnologia proteômica é crucial para criar formas de reduzir o risco de doença cardiovascular no grupo que o estudo analisou.
Conforme outro autor do estudo, o professor associado de medicina da Escola Médica de Harvard, Towia Libermann afirmou, os biomarcadores sanguíneos de proteínas usados na análise são particularmente efetivos para avaliar o risco de doença cardiovascular.
Isso porque eles carregam informações clínicas sobre o risco de doença e são as moléculas que mais se utiliza em aplicações de diagnóstico, completou.
Desdobramentos
A diretora do Centro de Harvard/MGH de Genômica, Populações Vulneráveis e Disparidades de Saúde também destacou que a espiritualidade pode servir como uma fonte de resiliência e trazer um efeito de proteção.
A professora de medicina apontou ainda que muitas das comunidades minoritárias que experimentam níveis mais altos de doenças cardiovasculares também relatam níveis maiores de religiosidade e espiritualidade.
“(Assim), estudos como o SSSH podem ajudar a identificar novos pontos, como a psicoterapia focada na espiritualidade para quem está com dificuldades espirituais, que poderiam reduzir os riscos de doenças cardiovasculares para esses indivíduos”, sugeriu Shields.
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