Gravidez

Café na Gravidez Faz Mal?

Publicado por
Dra. Patricia Leite

A gravidez é um período da vida da mulher que vem acompanhado de muitas dúvidas e recomendações na dieta. As novas mamães que não vivem sem um café, por exemplo, podem se perguntar se o consumo de café na gravidez faz mal para o desenvolvimento do bebê.

Para esclarecer essa dúvida, vamos discutir quais são os efeitos do café no organismo durante a gravidez e mostrar com base em estudos científicos se o café na gravidez faz mal ou não.

Consumo de café

Cada vez mais estudos comprovam que o consumo moderado de café pode trazer diversos benefícios para a saúde em geral. Além de melhorar o estado de alerta, esses estudos indicam que a ingestão da bebida pode aumentar os níveis de energia, estimular funções cognitivas como a memória e a concentração e até atuar na prevenção de doenças degenerativas como o mal de Alzheimer e o mal de Parkinson.

Mas e na gravidez? Será que o excesso de cafeína pode fazer mal para o feto em desenvolvimento?

Café na gravidez faz mal?

Pesquisas mostram que a cafeína é capaz de atravessar a placenta e isso pode ou não afetar o feto em desenvolvimento, dependendo da quantidade da substância que é ingerida.

De acordo com a Dra. Gersh, obstetra e ginecologista americana diretora do Integrative Medical Group of Irvine nos EUA, é interessante evitar o consumo de café na gravidez, mas quantidades moderadas em pequenas porções não causam impacto negativo no feto.

Possíveis efeitos da cafeína na gravidez

Apesar de não fazer mal em baixas quantidades, a cafeína pode causar alguns efeitos indesejados que podem prejudicar a grávida e seu bebê, principalmente quando a ingestão é exagerada. Alguns desses efeitos são descritos abaixo:

– Efeito estimulante

A cafeína é um composto estimulante que pode aumentar a pressão arterial e elevar a frequência cardíaca, o que pode ser perigoso durante a gestação.

– Ação diurética

Por ser diurética, a substância pode aumentar a frequência de micção, que já é mais alta durante a gravidez, podendo aumentar os riscos de desidratação.

– Alterações no comportamento do feto

Como já mencionado, a cafeína pode atravessar a placenta, já que a substância é capaz de passar pelas membranas do corpo, chegando em praticamente qualquer tecido do nosso organismo, incluindo o interior da placenta. Isso pode ser preocupante, já que o metabolismo do bebê ainda está em desenvolvimento e não é capaz de metabolizar totalmente a cafeína que chega até ele.

Assim, o excesso de cafeína pode alterar o padrão do sono do feto ou os movimentos do bebê nos estágios finais da gravidez, o que pode inclusive prejudicar o trabalho de parto.

– Influência no peso do bebê

Segundo a Dra. Gersh, beber café em excesso durante a gestação pode resultar em um bebê com peso baixo ao nascer, o que é muito perigoso para a saúde da criança que acaba de chegar ao mundo.

Além disso, ela afirma que beber 5 ou mais xícaras por dia de café na gravidez faz mal porque pode fazer com que o bebê ganhe mais gordura corporal durante os primeiros 6 anos de vida, o que resulta em maior índice de massa corporal (IMC) e risco maior de desenvolver obesidade.

– Problemas de desenvolvimento e risco de aborto

Alguns estudos também indicam que a cafeína pode impactar de modo negativo o desenvolvimento do cérebro do bebê e que a ingestão exagerada de cafeína no início da gravidez pode aumentar as taxas de aborto espontâneo.

Além disso, a cafeína também pode acelerar o ritmo cardíaco do bebê, causando problemas como arritmia cardíaca.

Apesar de raro, também pode acontecer de o bebê ficar viciado na substância se a mãe consumir cafeína em grande excesso durante a gravidez, o que causará sintomas de abstinência na criança após o nascimento.

Dose recomendada durante a gestação

Apesar de preocupantes, esses problemas podem ser evitados ao limitar a ingestão de cafeína durante a gestação.

Atualmente, a Organização Mundial de Saúde indica a ingestão de até 300 mg de cafeína por dia. Porém, em alguns países como a Inglaterra e os Estados Unidos, a dose diária recomendada de cafeína durante a gestação é de no máximo 200 miligramas. Isso equivale, por exemplo, a um dos itens abaixo:

  • 2 xícaras de café instantâneo;
  • 2 xícaras de chá contendo cafeína;
  • 6 latas de coca cola;
  • 4 barras de 50 gramas de chocolate.

Para facilitar a contabilização de cafeína ingerida por dia, preparamos uma lista com a quantidade aproximada de cafeína presente em alguns alimentos e bebidas:

  • 1 caneca (200 mL) de café instantâneo: 100 miligramas de cafeína;
  • 1 caneca (200 mL) de café filtrado: 140 miligramas de cafeína;
  • 1 caneca (200 mL) de chá: 75 miligramas de cafeína;
  • 1 lata (350 mL) de coca cola: 40 miligramas de cafeína;
  • 1 lata (250ml) de bebida energética: pode variar de 80 a 160 miligramas de cafeína dependendo do fabricante;
  • 1 barra (50g) de chocolate: pode variar de 5 a 30 miligramas de cafeína;
  • 1 garrafa de chá gelado: pode variar de 15 a 25 miligramas de cafeína;
  • 1 caneca (200 mL) de café descafeinado: 8 miligramas de cafeína.

Quando o café é preparado em casa ou em uma padaria, ele pode ser forte demais e conter mais cafeína por porção do que o informado no rótulo. Assim, tome cuidado com a quantidade de grãos ou pó de café usada ao preparar sua bebida.

Estudos

Para entender melhor como o excesso de café na gravidez faz mal, vamos analisar alguns estudos científicos publicados sobre o assunto.

– Estudo norueguês

Existe um estudo norueguês muito famoso publicado em 2013 sobre o consumo de cafeína por mulheres grávidas que é o maior estudo realizado até hoje sobre o impacto da substância na saúde do feto. Tal estudo envolveu mais de 59 mil mulheres grávidas ao longo de 10 anos de coleta de dados.

Os resultados indicaram que a cafeína pode aumentar o risco de o bebê nascer menor do que a média e prejudicar o ganho de peso da criança após o nascimento. Eles também constataram neste estudo que a cafeína pode prolongar um pouco a duração da gravidez.

Os cientistas envolvidos no estudo analisaram todas as fontes de cafeína ingeridas pelas grávidas, contabilizando não só o café, mas também o consumo de chá, chocolate, refrigerante e sobremesas contendo chocolate. Também foram considerados outros fatores como o hábito de fumar e condições de saúde pré-existentes.

Apesar de avaliar outros fatores além do consumo de cafeína, não é possível provar uma relação direta entre a ingestão da substância e o baixo peso dos bebês no nascimento, pois é muito difícil quantificar a influência de outros fatores como os hábitos diários das gestantes e suas condições de saúde.

As gestantes que participaram do estudo foram orientadas a montar um diário alimentar contendo a quantificação da ingestão de alimentos e bebidas que contém cafeína. O consumo diário de 0 a 49 miligramas da substância foi considerado baixo. O consumo entre 50 e 199 miligramas foi considerada médio. A ingestão entre 200 e 299 miligramas de cafeína foi considerada alta e o consumo maior que 300 miligramas foi considerado como muito alto.

Além disso, fatores como peso e altura do bebê após o nascimento foram medidos 11 vezes a partir da sexta semana de vida até os 8 anos de idade.

Com base nesses dados, foi constatado a longo prazo um crescimento excessivo e mais rápido das crianças cujas mães consumiam quantidades médias, altas e muito altas de cafeína. Além do crescimento, a exposição à cafeína em qualquer quantidade foi associada ao excesso de peso das crianças durante os primeiros anos de vida entre 3 e 5 anos de idade. No entanto, após atingirem os 8 anos de idade, só continuaram obesas as crianças cujas mais ingeriram quantidades muito altas de cafeína durante a gestação.

Apesar desses resultados, muitos pesquisadores como Gino Pecoraro, renomado obstetra e ginecologista australiano e Clovis Palmer, também australiano e pesquisador na Universidade Monash na Austrália, concordam que é preciso levar em conta que grande parte das mulheres envolvidas em estudos desse tipo que consomem muita cafeína também costumam apresentar problemas como obesidade e manter hábitos inadequados como fumar e ter uma dieta pobre em nutrientes.

– Outros estudos

Um estudo mais recente publicado em 2017 afirma que o consumo de até 300 miligramas de cafeína por dia é aceitável, desde que as gestantes sejam saudáveis. Isso significa que o café pode ser consumido com moderação desde que a grávida não fume e mantenha bons hábitos de alimentação e de atividades físicas durante a gravidez.

Além disso, para a nutricionista Melanie McGrice, especialista em fertilidade e gravidez, algumas mulheres desenvolvem uma certa aversão ao café durante a gestação, o que já ajuda a diminuir a ingestão. Ela também acredita que as futuras mamães que tomam grandes quantidades de café (cerca de 8 xícaras ao dia, por exemplo) já podem se beneficiar ao cortar 3 dessas xícaras da rotina diária.

É importante ter em mente que a falta de cafeína pode causar um estresse desnecessário na gestação de quem está habituado com a bebida diariamente. Assim, vale apostar na moderação do consumo da bebida, já que a redução por total do consumo pode fazer mais mal do que bem nesses casos.

Também existem estudos que indicam que beber grandes quantidades de cafeína pode aumentar o risco de aborto espontâneo, parto prematuro e de defeitos congênitos no bebê. No entanto, grande parte dessas pesquisas foram realizadas em animais e ainda não há dados conclusivos sobre seres humanos.

Concluindo: posso tomar ou café na gravidez faz mal?

Como você já deve ter suspeitado, a palavra-chave no consumo de café na gravidez é a moderação. Os estudos na área indicam que mulheres que ingerem entre 50 e 200 miligramas de cafeína por dia não apresentam problemas durante a gravidez e nem prejudicam o desenvolvimento do bebê.

Assim, se você está esperando um bebê, o ideal é que você limite a ingestão de cafeína, ficando sempre abaixo dos 200 miligramas diários.

Também é importante lembrar que é preciso ficar atenta ao consumo de outros alimentos. Não adianta limitar a ingestão de café sem tomar cuidado com outros alimentos que contêm cafeína. Isso inclui diversos tipos de chás, chocolates, refrigerantes, bebidas energéticas, analgésicos e medicamentos para gripes e resfriados.

Algumas dicas que facilitam a redução do consumo de cafeína durante a gravidez incluem o aumento da ingestão de água ou de frutas. Também é possível optar por tipos de chá e café descafeinados.

Outras dicas

1. Atenção com a sua relação com a cafeína

Algumas pessoas ficam ansiosas ou nervosas se não tomam seu café matinal. Outras apresentam o efeito contrário, ficam ansiosas e com sintomas como palpitações, pressão alta, suor excessivo e níveis altos de açúcar no sangue. Assim, você precisa observar qual o efeito que a cafeína produzia no seu corpo antes da gravidez para entender se para você o café faz mal na gravidez.

Se ao tomar café você apresenta esses sintomas desagradáveis, vale a pena limitar ao máximo a ingestão para evitar estresse desnecessário na gestação. Agora, se você realmente necessita daquela dose de café para passar o dia bem, tome a bebida com moderação.

2. Cuidados com a alimentação

Durante a gravidez, é importante ter uma dieta altamente nutritiva e balanceada. Ao obter os nutrientes necessários, é provável que você se sinta com bastante energia e não precise mais daquela dose extra de cafeína para ter mais energia para finalizar as tarefas do dia. Além disso, o feto necessita de vitaminas e minerais para o bom desenvolvimento e para evitar a ocorrência de defeitos congênitos.

Vídeo: Benefícios do café

O vídeo a seguir também traz informações valiosas sobre o café. Não deixe de conferir!

Você já imaginava que o excesso de café na gravidez faz mal? Já teve um bebê e consumia café durante a gravidez ou evitou? Comente abaixo!

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Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

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