A depressão é um problema sério que vem aumentando cada vez mais ao redor do mundo, tendo afetado 322 milhões de pessoas em todo o planeta somente no ano de 2015. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior incidência de depressão na América Latina, com um total de 11,5 milhões de brasileiros atingidos no mesmo período.
Entre os muitos possíveis tratamentos para o problema, o uso de medicamentos é um dos mais importantes. Com o desenvolvimento de antidepressivos pela indústria farmacêutica ao longo das últimas décadas, a depressão passou a ser um problema médico passível de tratamento, assim como outras doenças, ajudando a resolver boa parte dos casos identificados.
Vamos conferir quais são os antidepressivos mais usados atualmente, entender como funcionam estes medicamentos no organismo e conhecer os efeitos colaterais causados com sua utilização.
O que é a depressão?
Os transtornos de humor são problemas psiquiátricos em que ocorre o predomínio de alterações significativas de humor e também de outros sintomas associados, entre eles as mudanças de apetite, alterações no sono, redução ou ganho de peso corporal, redução da libido, entre muitos outros, que permanecem por semanas ou até meses.
Existem diversos tipos de transtornos. Em alguns predominam os sintomas de depressão e de tristeza, outros também apresentam quadros de euforia e excitação. No quadro de depressão, deve haver presença de humor depressivo, falta de interesse em atividades do cotidiano, falta de prazer, podendo apresentar redução na capacidade de concentração, perda de energia e cansaço, alteração no peso corporal, entre outros.
Estudos mostram que a depressão pode ser causada em função de um desequilíbrio químico devido à menor disponibilidade de algumas aminas cerebrais, entre elas a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Um dos tratamentos mais utilizados atualmente para resolver o problema de depressão é o uso de medicamentos antidepressivos.
Estes medicamentos antidepressivos mais usados possuem um mecanismo de ação que atua no aumento da disponibilidade destes neurotransmissores na fenda sináptica ou através da inibição das enzimas responsáveis pela degradação destas substâncias, garantindo sua recaptação no cérebro e aumentando, assim, sua concentração.
O que são os medicamentos antidepressivos?
Os medicamentos antidepressivos começaram a ser estudados e desenvolvidos a partir da década de 50, ajudando bastante no tratamento da depressão e também na identificação dos mecanismos relacionados aos transtornos depressivos, promovendo o desenvolvimento de novas formas de tratamentos relacionados à doença.
Os estudos em torno deste tipo de medicamento já evoluíram bastante e de forma muito rápida. Os primeiros antidepressivos foram descobertos através de observação clínica, utilizando-se inicialmente os antidepressivos tricíclicos (ADTs) e os inibidores de monaminooxidase (IMAOs). Estes dois grupos de medicamentos eram os únicos utilizados até os anos 80.
Os ADTs eram os mais eficazes, pois sua ação aumentava a disponibilidade da norepinefrina e da serotonina no cérebro, porém, o seu uso foi limitado em função dos efeitos colaterais indesejados causados pela falta de especificidade na sua ação farmacológica. Da mesma forma, os medicamentos IMAOs também tiveram seu uso limitado, pois além de interagir com outras partes do cérebro, também aumentavam o risco de gerar crises hipertensivas que eram potencialmente fatais.
Nas últimas duas décadas, surgiram novas classes de medicamentos e os novos antidepressivos são formados por substâncias que agem em um único neurotransmissor ou em múltiplos neurotransmissores. Entre os antidepressivos mais usados atualmente estão a amitriptilina, a venlafaxina, a fluoxetina, a bupropiona, a trazodona, a mirtazapina, entre muitos outros.
Estes novos medicamentos atuam somente nos neurotransmissores que são diretamente responsáveis pela depressão e estes não atuam em outros sítios receptores cerebrais que não estejam relacionados com a doença, tais como a histamina e a acetilcolina. Desta forma, estes novos antidepressivos mais usados não causam boa parte dos efeitos colaterais que ocorriam com o uso dos medicamentos anteriormente utilizados.
Quais os antidepressivos mais usados atualmente?
Os antidepressivos podem ser classificados tanto de acordo com sua estrutura química quanto em função das suas propriedades farmacológicas. Atualmente, preferencialmente, estes medicamentos são mais classificados por sua ação, sendo, assim, mais útil na prática clínica e na indicação de cada tipo.
Estes medicamentos também podem ser utilizados no tratamento de outras doenças, como enxaquecas, TPM, problemas de ansiedade, fobia social, TOC, e etc.
Os medicamentos antidepressivos não influenciam o organismo de forma drástica, eles apenas ajudam a corrigir certas condições do cérebro. Em pessoas normais, os antidepressivos não provocam efeitos estimulantes ou de euforia como acontece com o uso de outros medicamentos, como as anfetaminas.
Muitas vezes, inclusive, os pacientes não possuem resposta na utilização de uma das classes de medicamentos, sendo necessária a utilização de outras classes de antidepressivos.
Os antidepressivos mais usados podem ser atualmente divididos por seu mecanismo de ação, ajudando a aumentar a eficiência sináptica da transmissão dos neurônios noradrenégicos e/ou serotonérgicos. Estes medicamentos produzem um aumento na concentração dos neurotransmissores através da inibição do metabolismo, do bloqueio de recaptura dos neurônios ou através da atuação dos autoreceptores pré-sinápticos.
Conheça, agora, algumas das classes dos antidepressivos mais usados atualmente:
1. Antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs)
Esta classe de medicamentos foi desenvolvida a partir da necessidade de se encontrar antidepressivos que fossem tão eficazes quanto os ADTs, mas que apresentassem poucos problemas em relação aos efeitos adversos e à segurança. Este grupo é o prescrito com maior frequência e neles estão os seguintes medicamentos: citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina.
Esta classe é capaz de inibir de forma bastante potente e seletiva a recaptação da serotonina, aumentando o potencial da neurotransmissão serotonérgica. Ou seja, este antidepressivo aumenta a concentração de serotonina na fenda sináptica, elevando o estímulo das células.
Os neurotransmissores são substâncias químicas que permitem a passagem de sinais entre os neurônios. A serotonina, por sua vez, é um neurotransmissor produzido no tronco encefálico e que possui muitas funções. Ela atua na regulação do sono, do humor, ajuda a diminuir a ansiedade e a irritabilidade e evita a depressão.
De forma geral, os principais efeitos adversos relatados dessa classe de antidepressivos são os problemas gastrointestinais, tais como náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, problemas psiquiátricos como a ansiedade, agitação, insônia, nervosismo, além de fadiga, perda ou ganho de peso, disfunções sexuais, alterações de sono, entre muitos outros.
2. Antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Este grupo de medicamentos apresenta uma estrutura de núcleo com três anéis, sendo chamado assim de tricíclicos. Estes medicamentos atuam em nível pré-sináptico, bloqueando a recaptura de monoaminas, entre elas a norepinefrina e a serotonina, e, em menor proporção, a dopamina.
Nesta classe estão os seguintes antidepressivos: imipramina, desipramina, clomipramina, amitriptilina, nortriptilina, doxepina e maprotilina.
O efeito deste grupo na transmissão serotoninérgica engloba a melhoria dos sintomas emocionais e também a redução dos sintomas físicos causados pela depressão. Entre os possíveis efeitos adversos estão a presença de boca seca, visão turva, constipação, confusão mental, retenção urinária, problemas cardiovasculares, insônia, tremores, entre muitos outros.
3. Antidepressivos inibidores da monoaminooxidase (IMAOs)
Os mecanismos de ação destes medicamentos ainda não foram totalmente estudados e ainda não foram esclarecidos. Sabe-se apenas que esta classe promove a inibição da atividade da enzima monoaminooxidase que está diretamente relacionada no metabolismo de diversos neurotransmissores.
Com a inativação desta enzima, ocorre o aumento da concentração de noradrenalina, serotonina e dopamina, promovendo, assim, os efeitos antidepressivos. Neste grupo estão os seguintes medicamentos: iproniazida, isocarboxazida, tranilcipromina, fenelzina, brofaromina, moclobemida, toloxatona e befloxatona.
Os efeitos adversos relatados para esta classe de medicamentos são as vertigens, tonturas, diarreia, edemas nos pés e tornozelos, taquicardia, confusão mental, inquietação, tremores, visão turva, alterações de sono, cefaleia leve, aumento da pressão arterial, aumento do apetite, sudorese, entre muitos outros.
4. Inibidores seletivos de recaptura de 5-HT/NE (ISRSN)
Esta classe dos antidepressivos mais usados é formada pela venlafaxina e por seu metabólito ativo O-desmetilvenlafaxina (ODV), que são inibidores seletivos de recaptação da serotonina e da noradrenalina, porém apresentando fraca recaptação da dopamina.
Este medicamento é rapidamente absorvido e sua biodisponibilidade é de 45%. Os efeitos colaterais mais relatados com o uso desta classe de antidepressivos são as tonturas, náuseas e sonolência.
5. Inibidores seletivos de recaptura de serotonina e antagonista alfa 2 (IRSAs)
Esta classe de medicamentos é formada pela nefazodona que atua na inibição da captação neuronal de serotonina e da noradrenalina. Este medicamento é rapidamente absorvido e sua biodisponibilidade é de 20%. Os efeitos colaterais mais relatados com o uso desta classe de antidepressivos são dores de cabeça, boca seca, sonolência fraqueza, visão turva, assim como alguns efeitos cardiovasculares.
Conclusão
Os antidepressivos são uma das melhores alternativas para o tratamento da depressão, ajudando a resolver a maior parte dos casos da doença. É importante que se conheça os antidepressivos mais usados para que o paciente se mantenha informado e ciente dos possíveis efeitos colaterais gerados pelo uso destes.
Não utilize nenhum remédio sem a orientação de um médico. Caso você apresente um ou mais sintomas associados à depressão, procure imediatamente o acompanhamento de um profissional da saúde para que este possa lhe indicar o melhor tratamento e também o melhor antidepressivo ser usado.