A estudante Valentina Queiroz, 19 anos, foi diagnosticada com uma doença rara chamada hipertensão intracraniana idiopática, também conhecida como pseudotumor cerebral. O primeiro sintoma notado pela jovem foi a dor de cabeça, até que um dia ela acordou vesga.
O incômodo surgiu em julho de 2023. “Era uma dor de cabeça insuportável. Eu dormia e acordava com ela. Nenhum remédio resolvia. Mas eu fui empurrando com a barriga porque achava que era por passar muito tempo no celular“, recordou a estudante de odontologia.
A moradora de Araras, em São Paulo, também sentia o pescoço rígido. Ela observou uma melhora ao procurar um quiropraxista, mas a dor de cabeça permaneceu. O profissional, então, apontou uma possível tensão muscular.
“Só que, no dia seguinte, eu acordei vesga. O meu olho direito estava torto e eu não sabia o que fazer. Entrei em desespero”, contou à revista Marie Claire.
Mesmo nervosa, Valentina não buscou ajuda médica de imediato. Ela só foi ao hospital quando sua avó pediu para investigar os motivos do olho torto. A tomografia e o raio-X não detectaram qualquer alteração, e a jovem foi internada para uma investigação mais detalhada.
Os médicos tinham algumas suspeitas para o caso de Queiroz, como a paralisia do nervo óptico, o que a fez ficar com medo do olho nunca mais voltar ao normal. A estudante logo foi encaminhada para a ressonância magnética.
“O desespero veio quando o médico me deu o diagnóstico às 22h, na porta do quarto do hospital. Quando ele entrou, meu mundo desabou”, relatou.
Valentina foi informada que estava com hipertensão intracraniana idiopática. A condição afeta cerca de uma a cada 100 mil pessoas. É até 20 vezes mais comum em mulheres com sobrepeso e obesidade, em idade fértil.
“A hipertensão intracraniana idiopática é uma condição em que há um aumento da pressão dentro do crânio sem uma causa aparente. Ela também é chamada de pseudotumor cerebral porque os sintomas podem mimetizar aqueles que são de um tumor no cérebro, como dor de cabeça, náusea, vômito e problemas de visão”, esclareceu a neurologista Bruna Proença, do Hospital Nove de Julho.
“No entanto, não há uma massa ou crescimento anormal no órgão que explique os sinais, o que justifica o termo ‘pseudo’, falso tumor”, acrescentou a especialista.
Embora o problema de saúde não tenha uma causa exata, sabe-se que ele é uma disfunção da produção ou absorção de líquido cefalorraquidiano (LCR), levando ao acúmulo de pressão no cérebro.
O tratamento consiste no uso de medicamentos para reduzir a produção de LCR e procedimentos cirúrgicos, como punções lombares repetidas para drenar o excesso de LCR ou colocação de uma derivação (shunt) para desviá-lo e aliviar a pressão no cérebro.
No caso de Valentina, foi iniciado o tratamento com diurético, mas a paciente logo foi transferida para o Hospital de São João da Boa Vista, cidade vizinha à sua, onde foi informada que precisaria de uma cirurgia de emergência.
“O médico me disse que eu estava no estágio mais avançado da doença e que, se eu não operasse, perderia a visão”, comentou. Queiroz colocou uma válvula no cérebro para drenar o LCR e amenizar a pressão cerebral.
“Assim que saí da cirurgia, meu olho já estava voltando ao normal. Fiquei muito feliz. Mas a recuperação foi bem complicada. Eu lembro que nos primeiros dias, eu não conseguia sair da cama. Meu pescoço doía muito. Mas com muito esforço e remédio, voltei para casa depois de uma semana internada”, afirmou.
Novo médico, opinião diferente
Neste ano, Valentina começou a passar mal diariamente no almoço e no final da tarde. Com isso, a estudante tomou a decisão de procurar a ajuda de um novo especialista, dessa vez, em Ribeirão Preto.
“Ele disse que o médico que me operou se precipitou em já colocar a válvula porque ela é a última opção quando a pessoa tem hipertensão intracraniana idiopática”, contou.
Ademais, o novo médico suspeita que Valentina tenha sofrido um quadro temporário de pseudotumor cerebral, não a doença em si. Para comprovar a hipótese, a estudante precisa ser novamente internada para retirar a válvula e ser monitorada.
“Hoje em dia, estou tentando lidar com essa dor da melhor forma possível até eu conseguir operar de novo. É uma doença muito desafiadora e nunca imaginei passar por isso”, lamentou Queiroz.
“Mas o conselho que eu dou para as pessoas que estão suspeitando da condição é procurar um médico o quanto antes. Não cometa o mesmo erro que eu”, acrescentou. As informações são da Marie Claire.